quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A importância de um bom volante

 Xabi Alonso e Sergio Busquets marcam Schweinsteiger: talvez os três melhores volantes do mundo atualmente (Ag. Reuters)

Esta postagem surge de uma forma banal: fazia um exercício mental para relembrar quais seriam os melhores jogadores que vi jogar. Logo, pensei em Makelele e Davids, um pouco depois, me veio à cabeça o nome de Viera. Claro, estes jogadores não surgiram por acaso, na verdade, a missão que embarquei era a de escalar uma seleção daqueles que mais me fascinaram na prática do esporte bretão. Portanto, a minha seleção – que acabou nem sendo escalada –, não poderia ficar sem os marcadores.

A importância de um bom volante é bastante subestimada em uma partida de futebol. O pensamento é simples: sem a bola, não se joga, por isso, é necessário ter o jogador capaz de executar roubos. Esta função na maioria das equipes é desempenha pelo primeiro volante, jogador que nem sempre tem a técnica entre as principais características de seu jogo.

Porém, cada vez mais, o jogador especialista perde espaço no futebol moderno. Ou seja, os volantes, mesmos aqueles que ficam mais focados à marcação, não podem resumir sua participação em campo ao desarme. Voltando os olhos para os melhores da posição atualmente isto fica ainda mais claro. Barry, Cambiasso, Lucas Leiva, Schweinsteiger, Marchisio, Sergio Busquets, Xabi Alonso e Yaya Touré são todos jogadores que contribuem com a saída de bola dos respectivos times, chegam forte para finalizar e cedem assistências.

Um dos melhores que pude ver na posição foi Edgar Davids, que já no final da carreira na segunda passagem pelo Ajax, na temporada 2007-08, concedeu uma entrevista em inglês ao site da UEFA sobre o que é necessário para ser um bom volante. O carismático holandês destaca que para ser craque na volância "tem que saber sair jogando".

O jogador de três Eurocopas e uma Copa do Mundo era diferente dos outros da posição e sobressaiu por conta de uma facilidade pouco comum para um “camisa cinco”: o drible. Dotado de muita habilidade, Davids estrelou diversas campanhas publicitárias ao lado de Ronaldo, Ronaldinho, Denílson e outros craques da linha dos showman’s. O holandês também tinha a facilidade dos passes e aliado à isso ainda estava a raça e a disposição para fazer o “jogo sujo”, a primeira obrigação de um volante, mesmo quando ele tem a habilidade de um Edgar Davids.

A importância dos volantes pode ficar ainda mais clara, com exemplos, portanto, vamos expor algumas situações. Dois dos maiores times que pude assistir jogar em minha vida, sucumbiram após a perda do primeiro homem do meio-campo.
Vieira ergue a taça da EPL 2003-04, quando de forma invicta o Arsenal levantou seu último título inglês (Getty Images)

Talvez, o caso mais emblemático seja o do Arsenal, à época tido como The Invincibles. Duas temporadas depois do ano perfeito na English Premier League, o capitão Vieira deixou a Inglaterra, com a conquista da FA Cup, sobre o grande rival Manchester United, com direito a cobrança de pênalti decisiva na final. Mesmo com a base semelhante em 2005-06, os gunners não conquistaram mais nada e isto dura até hoje.
O histórico camisa quatro é mais um dos volantes tidos como moderno. Dotado de bom chute de fora da área e bom passe, o francês não se resumia à força de marcação e era peça importante também ofensivamente. No Arsenal, foram nove anos e 11 títulos. Na EPL, com a camisa do clube norte-londrino, disputou 279 jogos e marcou 29 vezes.

Outro grande time dos anos 2000 e que sucumbiu depois da saída do grande volante da companhia foi o Real Madrid, da primeira era galáctica. A grande fase dos merengues com Roberto Carlos, Zidane, Figo, Raúl e, no final dos tempos, Ronaldo foi justamente entre 2000 e 2003, quando Makelele também fazia parte do elenco madridista. O Presidente do Real à época era Florentino Pérez e a ideia que ele fazia de futebol era de que quanto mais craques em campo, melhor. Para isso, ele não se importava de abrir mão de volantes para colocar as estrelas dentro das quatro linhas.

Foi se baseando nesta ideia que o Presidente resolveu trazer David Beckham ao Real. O inglês sem dúvida alguma é um grande jogador, mas de função diferente à de Makelele e com uma disposição para marcar bem menor que a do francês. Talvez empolgado pela corrida – contra o Barcelona – da contratação de Becks, Florentino Pérez rejeitou um pedido de aumento feito por Makelele, que teve apoio de jogadores como Raúl e Zidane nesta reivindicação.
 No postagem sobre a final da Liga dos Campeões 2001-02, o site UEFA coloca esta foto com o craque Zidane e o trabalhador Makelele. Todos no elenco blanco sabiam o porquê da presença do volante francês como destaque também (Getty Images)

A justificativa do Presidente foi simples: “Nós não vamos sentir falta dele. A técnica dele é média, é lento e 90% dos seus passes são para trás ou para o lado. Jogadores jovens irão chegar e Makelele será esquecido”. Após a saída do francês foram três anos sem conquistas, período longo para um Real Madrid, de tanto investimento. O compatriota e companheiro de seleção, Zidane definiu o que foi a saída do volante para os merengues, ao mesmo tempo, em que Beckham chegava: “Por que colocar outra camada de pintura de ouro sobre o Bentley, quando ele perdeu toda a engrenagem?”

Outro companheiro de Makelele no Real, o inglês McManaman também definiu bem o que foi a partida do volante francês. “Ele foi o melhor jogador do nosso time por anos, mas as pessoas não sabiam e ninguém noticiava isso. Mas, se você perguntasse para qualquer um do elenco blanco, iriam te dizer que Makelele era o nosso melhor. Todos sabíamos que ele era o mais importante. A saída do francês foi o início do fim dos galácticos”. O grande volante foi para o novo rico Chelsea e, na segunda temporada, com a chegada de José Mourinho, se tornou peça chave em mais uma equipe de sucesso. Ou seja, novamente mostrando a importância que um grande marcador tem para formação de um time vencedor.

Por outro lado, um volante que apenas rouba bolas não tem o mesmo impacto no rendimento de uma equipe. O melhor exemplo talvez seja Willians, do Flamengo, um dos melhores ladrões de bolas dos últimos anos no Brasil, mas que falha excessivamente nos passes. Por conta disso, o camisa oito rubro-negro não é unanimidade entre os torcedores e jamais vestiu a camisa verde e amarela da seleção. Por outro lado, o hoje o camisa cinco de Mano Menezes é Lucas Leiva, o maior ladrão de bolas da English Premier League em 2010-11 e eleito o melhor jogador do Liverpool pelos fãs no mesmo período. O volante é mais um que não resume seu jogo ao trabalho defensivo. Passes longos e pancadas de fora da área também são características do ex-gremista.

Por isso, fica clara a importância de um bom marcador para o funcionamento de qualquer equipe, mesmo as que são recheadas de estrelas. Mas, no futebol de hoje, preferencialmente, o volante também deve ter outras características, para contribuir chegando ao ataque e com os passes, sempre facilitando a saída de bola da equipe.