segunda-feira, 24 de junho de 2013

Todos os Balotellis em um só



Eu não comemoro gols efusivamente, pois é o meu trabalho. Alguém já viu um carteiro comemorar cada carta entregue? (Getty Images)

Faz tempo que admiro Balotelli e devia um texto mais profundo sobre o jogador. No dia seis de março de 2010, publiquei um post falando dele no blog. Mas, de lá pra cá, o negro italiano ganhou notoriedade e muitas coisas mudavam. À época, cobrava “Super Mario” na Copa do Mundo de 2010. Portanto, este texto será uma atualização daquele, com o acréscimo de muitas coisas e correções. Explicado isso vamos ao novo post:

Balotelli se tornou uma estrela mundial jogando pelo clube do coração, o Milan. SuperMario foi o principal o jogador do rossonero, que alcançou a vaga na Liga dos Campeões 2013-14. Ele chegou em janeiro do Manchester City e marcou 12 gols (seis de pênalti) em 13 aparições. Hoje, Balo é um grande centroavante, se aproveitando do bom porte físico (1,88m) é ótimo na proteção de bolas, arremata com bastante precisão e, por ter muita confiança, aposta em lances que outros jogadores não apostariam para decidir as jogadas.

Família
 Balotelli e um dos irmãos biológicos: desde cedo com a bola (Daily Mail)


Filho dos imigrantes cristãos ilegais ganeses, Thomas e Rose Barwuah, Mario Barwuah nasceu em 12 de agosto de 1990, na cidade de Palermo, no sul da Itália. Porém, a vida colocou o primeiro desafio e a grande virada de sua vida: um problema sério no intestino, que exigiria uma série de cirurgias, e a possibilidade de morte era bem real. Após isto, os ganeses deixaram Palermo e foram morar em Brescia. Primeiro, ficaram em um apartamento com outra família africana, depois, seguiram para outro local, através da ajuda prestada pelo serviço social italiano.

Os responsáveis pela mudança observando os problemas de saúde do pequeno Mario indicaram que ele deveria morar em outra casa. Assim, surgem os Balotellis na vida dele. Desde o início, os brancos italianos trataram Mario como um deles e foram conquistando o menino que, a princípio, só ficava durante a semana com a futura família adotiva. Aos poucos, isto mudou, ao jornal inglês, Daily Mail o pai Thomas Barwuah afirmou: “todas as vezes que nós íamos busca-lo, os Balotellis iam aumentando o tempo de guarda do pequeno Mario”. Na mesma entrevista, o ganês explicou que não tinha condições para bancar um advogado e brigar pela volta do hoje SuperMario à família biológica. Por isso, desde cedo, o camisa 45 rejeitou os pais e, quando visitava os três irmãos Barwuahs, evitava Rose e Thomas. Em certa altura da vida, SuperMario chegou a afirmar que os ganeses jamais voltariam a procurá-lo, caso ele não tivesse se tornado o jogador que é hoje. 

Este divórcio com os pais biológicos já não é tão radical como foi. A mãe Rose Barwuah foi morar em Manchester, enquanto Mario esteve por lá. Na cidade inglesa, ela trabalhava como emprega doméstica e começou a receber algumas visitas. Mas, em momento algum, esta mudança teve o objetivo de exigir mais atenção e dinheiro do milionário filho. Esta proximidade geográfica foi decisiva para a relação passar a outro patamar. O Daily Mail afirmou, no ano passado, que foi, em 2012, a primeira vez que Balotelli passou o natal com a sua mãe biológica.

Portanto, foi ao lado de uma família europeia de brancos judaicos, que o negro, filho de cristãos africanos, cresceu e amadureceu para o mundo. E o futebol veio cedo para ele, desde muito pequeno, tinha prazer em jogar o esporte criado pelos ingleses.

Começo da carreira

Estreia de Balotelli, aos 15 anos, pelo AC Lumezzane (Reporter/Zanardelli)

Desde os cinco anos de idade, o descendente de ganeses decidiu que seria jogador de futebol. Em Brescia, começou atuando no time da sua vizinhança e logo foi para o Parish, de Mompiano. Depois, foi jogar no AC Lumezzane levado pelo treinador e ex-jogador, Sandro Salvioni, que, nos primeiros toques na bola de SuperMario, descobriu que ele seria super. No clube, logo foi promovido ao time principal e, com 15 anos , estreou na Serie C, contra o Padova. Até hoje, Balo é o jogador mais jovem a disputar uma partida de tal divisão na Itália. Este recorde deverá morrer com Balotelli, pois,  para atuar com menos de 16 anos profissionalmente, é necessária uma autorização especial, que, à época, foi concedida ao descendente de ganeses.

Com a precocidade de seu surgimento para o futebol, ficava claro que ele seria procurado por outros clubes da Europa e isto ocorreu. Quem venceu a disputa pelo jogador de 15 anos foi a Fiorentina. Mas a falta de um passaporte italiano fez com que o negócio fosse cancelado. A Internazionale não perdeu a oportunidade e trouxe Balotelli para o seu settore giovanile (categorias de base), por um valor de 150 mil euros e, um ano depois, pagou mais 190 mil euros pelo restante do jogador.

Porém, antes de assinar com a Internazionale, passou por um estágio no Barcelona. Pelos blaugranas, jogou por cinco dias e marcou oito gols. O negócio não deu certo, pelo fato do italiano não ter passaporte italiano, o que é, no mínimo, estranho, pois Balotelli nasceu na Itália. Porém, as leis no Belpaese dizem que a cidadania não é dada a alguém que nasceu no país, se ele tiver dois pais estrangeiros. Por isso, o jogador teve grandes dificuldades para conseguir a sua cidadania, que só veio aos 18 anos, quando as normas da bota definem que um estrangeiro (ou filho de pais de outro país) pode ser considerado italiano. Balo não esteve na Olimpíada de Pequim exatamente por não ter a nacionalidade, azar da Itália, que perdeu de ver o trio com Giovinco e G. Rossi e caiu na segunda fase do torneio.

A Internazionale

No Allievi Nazionali (sub-16) da Beneamata, Balotelli chegou fazendo 19 gols em 20 jogos. A expectativa começava a se tornar realidade, Balo tinha um desempenho incrível. Logo foi promovido à equipe Primavera (sub-20) e marcou oito gols em 11 partidas. Neste nível, SuperMario ainda foi destaque no Scudetto em 2006-07 e na Coppa Viarregio 2008. A precocidade também veio ao ascender e jogar no elenco profissional. Roberto Mancini levou o garoto de 17 anos para o jogo contra o Cagliari, no final de 2007, e fez com que ele participasse de alguns minutos da partida.

Poucos dias depois voltou a jogar, mas, desta vez, atuou os 90 minutos, na partida válida pela Coppa Italia, contra o Reggina fora de casa. Mario mostrou seu talento, anotando dois gols na vitória de seu clube por 4 a 1. Com mais uma atuação de gala na Coppa, agora frente à Juventus, no Olimpico de Turim, SuperMario foi chamado de fenômeno, pois marcou dois belos gols contra a rival. Como fica claro nos vídeos, Balotelli não era o centroavante que é hoje. À época, atuava mais pelo lado do campo e fora da área, se aproveitando da velocidade e da facilidade para driblar, mas já mostrava facilidade para marcar gols de “camisa nove”. Na temporada de estreia, foram 15 jogos e sete gols, quatro na Coppa Italia, competição que terminou como artilheiro

Com a Inter, Balotelli evoluiu muitocom Mancini e, principalmente, com José Mourinho, mesmo se envolvendo em alguns problemas com o Special One. No primeiro ano sob a batuta do técnico português, foram 31 partidas, em que balançou as redes dez vezes. Quando marcou pela Liga dos Campeões um gol, no empate em 3 a 3, contra o Anorthosis Famagusta, Balo entrou na história interista. Se tornou o jogador nerazzurro mais jovem (18 anos e 85 dias) a anotar em uma partida de LC.

Em 2009-10, Balotelli ganhou tudo junto com a Inter, porém, não teve uma participação maior (40 jogos, indo 11 vezes às redes), pois as polêmicas lhe atrapalharam. De qualquer forma, no último jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões, contra o Rubin Kazan, no Giuseppe Meazza, a Beneamata disputava diretamente a vaga na próxima fase. Nesta partida, em que chegaram empatados, SuperMario foi super. Em campo desde o primeiro minuto, Balo executou uma assistência, de letra, para o gol de Eto’o e, no segundo tempo, fez um golaço de falta, portanto, foi decisivo.

Mas, os problemas com o técnico foram se acentuando e, por isso, muitas vezes foi afastado por José Mourinho do time principal, o que pulverizou as possibilidades de ir ao Mundial, na África do Sul. Com o potencial sendo conhecido por mais gente, as polêmicas de Balotelli também se tornaram mais notórias, porém, isto ficará para outro tópico. Ao final da temporada, a Inter ganhou tudo e SuperMario, colaborando menos do que seria capaz, foi importante ao triplete nerazzurro. Pelas dificuldades que criava fora de campo, a proposta de 29,5 milhões de euros apresentada pelo Manchester City se tornou irrecusável e, com isso, Balo terminou a passagem pela Beneamata com 86 partidas disputadas e 28 gols.

Estrela mundial em Manchester

 Balotelli, por que sempre ele? (Action Images)

Com ida à Inglaterra e para jogar naquele que talvez fosse na época o clube mais rico do mundo, Balotelli recebeu ainda mais holofotes e, finalmente, foi convocado pela seleção principal italiana – já havia sido chamado por Gana, mas negado a oportunidade. Cesare Prandelli foi o responsável pela convocação e pela estreia de Balo com a camisa da Squadra Azzurra. Porém o primeiro gol foi anotado apenas um ano depois, em 11 de novembro de 2011, na vitória por 2 a 0 frente à Polônia.

Nos Citzens, Balotelli não foi titular absoluto em nenhum momento, mas sempre foi um reserva bastante utilizado, principalmente na fase em que Tévez esteve brigado com Roberto Mancini (2011-12). No ano de estreia em Manchester City, Balo ainda venceu o troféu “Golden Boy”, que premia o melhor jogador jovem do mundo, e foi eleito o homem do jogo na final da FA Cup, a vitória por 1 a 0 contra o Stoke City – o primeiro título da nova fase milionária do clube. O bom futebol apareceu na temporada de debute na EPL, mas os problemas disciplinares também, em 27 partidas (sete como reserva) foram nove gols, dez cartões amarelos e duas expulsões.

A temporada de 2011-12 seria a da explosão de Balotelli, porém, com a chegada de Agüero, o italiano não foi titular da equipe e ficou como o principal reserva do setor ofensivo, aproveitando as ausências de Tévez. Na temporada, o auge de SuperMario ficou para o dérbi contra o United, em Old Trafford, quando marcou duas vezes e conseguiu a expulsão de Evans, fundamental para o placar de 6 a 1. A temporada foi boa mesmo para o City que levou o título da Premier League 2011-12. Balotelli colaborou bastante com os citzens no ano:  32 partidas (11 como reserva utilizado), 17 gols e duas assistências, mas, com sete cartões amarelos e dois vermelhos.

Até o antigo grande defensor de Balo, o técnico Roberto Mancini começava a perder a cabeça com o pupilo. Mas aí veio a Euro 2012, quando o jogador do Manchester City chegou como grande esperança ofensiva dos azzurri ao lado de outro polêmico homem de frente, Cassano. Antes do torneio, o italiano aproveitou e foi ao campo de concentração de Auschwitz (na Polônia, uma das sedes do torneio) com os familiares judaicos e se emocionou bastante com a visita.

A primeira fase foi inconstante e, justamente no jogo contra a Irlanda, quando começou no banco, fez o gol no final da disputa. Após esta partida, ao ser questionado se tinha algum problema com o técnico, Balotelli deu um resposta polêmica para Cesare Prandelli: “não, treinador, eu tenho problema com todos”. Na primeira fase, De Rossi, Pirlo e Cassano foram os destaques, mas, na fase final, lá estava SuperMario para se tornar o personagem da equipe na Euro 2012. Primeiro assistiu o maestro da camisa 21 ser o craque do 0 a 0, contra a Inglaterra, porém, Balo apareceu nas penalidades e, parar variar, marcou.

Com a classificação, a Alemanha se colocou à frente da Squadra Azzurra. Portanto, um seleção que era considerada a segunda melhor do mundo desafiaria uma equipe ainda inconstante. Porém, a semifinal sob os olhares da mãe adotiva, Balotelli teve a sua grande atuação, marcando os dois gols da vitória por 2 a 1 frente à Nationalmannschaft. Ao final do jogo, Balo descreveu aquela noite como “a melhor noite da vida até ali” e fez questão de correr para os braços da senhora Balotelli, onde a emoção não pode ser contida.

Na final frente à Espanha, massacre da roja por 4 a 0 e SuperMario não pode conter a tristeza. A semifinal contra a mesma fúria na Copa das Confederações 2013, que será realizada nesta quinta-feira no Castelão, seria a oportunidade ideal para a revanche, porém, com uma lesão muscular, o camisa nove azzurro está, praticamente, fora do jogo. Mas outros oportunidades de coroação máxima com a seleção italiana não deverão faltar para Balotelli, pois, ainda é jovem (22 anos) e já é considerado a principal esperança dos azzurri para os próximos anos.

Portanto a Euro 2012 mostrou que Balotelli teria capacidade de evoluir ainda mais e ele terminou no time dos melhores da competição e foi um dos seis artilheiros da disputa, com três gols. Isto o credenciou para seguir no City, mesmo, com a inconstância dos anos anteriores. Em campo, a expectativa não se materializou. Com Tévez bem resolvido com Mancini e Dzeko, cada vez mais, se mostrando importante, SuperMario teve a participação bastante reduzia. Até janeiro, eram 20 jogos (12 como reserva), três gols, duas assistências e três cartões.

O grande amor e a volta à Itália

 SuperMario comemora gol de pênalti, da marca da cal, ele é perfeito: 24 cobranças, 24 gols (AP Photo)

Neste contexto, apareceu o clube do coração do atacante, o Milan com uma proposta de 20 milhões de euros – incluindo bônus. O Manchester City não teve dúvidas e negociou Balotelli. A sorte brilhou para os rossoneri, pagando um valor menor do que os ingleses haviam desembolsado, levaram o jovem de volta para a Milão, mas, desta vez, para onde ele sempre quis jogar. Isto fez diferença e o desempenho dentro de campo mostra que os 20 milhões foram bem investidos.

SuperMario chegou como titular e vestindo a tradicional camisa 45. Na estreia frente à Udinese, Balotelli marcou duas vezes na vitória por 2 a 1, incluindo um gol de pênalti no partida. Mas não foi só o início que impressionou, até o final da temporada, o diavolo não perdeu com Balo em campo (13 partidas, 9 vitórias e 4 empates) e o centroavante marcou 12 vezes e não foi expulso nenhuma vez – tomou sete cartões amarelos. Com o desempenho do seu novo principal jogador, os rossoneri chegaram à Liga dos Campeões após uma primeira parte muito ruim de Serie A.

Balotelli foi preponderante nesta mudança de rendimento milanista na temporada 2012-13. A esperança da torcida do diavolo é que o desempenho do polêmico camisa 45 siga crescendo para que o Milan volte a ter sucesso europeu.

O Balotelli um pouco brasileiro

Na Copa das Confederações, todos ficaram impressionados com o passeio “sem medo” de Balotelli por Salvador para encontrar a namorada, que estava hospedada em um outro prédio. A tranquilidade impressionou, pois ele foi o único que foi autorizado a sair do hotel da delegação, mesmo no dia de folga os azzurri não foram liberados da concentração também por questões de segurança.

SuperMario disse que foi sem medo, pois tem muita ligação com a cidade. Segundo o seu site oficial, Balotelli passou os natais de 2007 e 2008 na comunidade Mata Escura, em Salvador. O italiano teve o interesse de visitar a capital baiana por conta de seu irmão Giovanni (filho dos Balotellis), que recebeu o convite para visitar o projeto “Ponte Para o Futuro”, comandado pelas irmãs missionárias Claudia Strada e Raffaella Corvino.

À época, o centroavante ainda na base da Inter dormiu no chão da casa de Marcio de Jesus Bezerra, um dos voluntários do projeto. O antigo amigo aproveitou a visita de Balo à Salvador para visita-lo e chama-lo para conhecer a iniciativa “Mata Escura Novo Rumo” dirigido pelo antigo colaborador do “Ponte Para o Futuro”. Porém, por estar confinado com Squadra Azzurra, SuperMario não pôde realizar a visita. Balotelli mantém, através do programa não-governamental italiano “aiutare i bambini”, cinco crianças, que fazem parte de um grupo de 50, em Salvador.

As polêmicas

Desde cedo, Balotelli foi acostumado a ser o único negro na turma, porém, o racismo só começou a aparecer com a profissionalização (Getty Images)

O camisa 45 mais famoso do futebol mundial não se destaca apenas pela precocidade e bom futebol. As suas declarações sempre repercutem muito na imprensa. Na época de Inter, o problema era afirmar a paixão pelo Milan, mesmo jogando pelo rival da cidade. Inclusive, em 2009-10, Balotelli foi a um jogo dos rossoneri, contra o Manchester United na Liga dos Campeões. A torcida interista levou a resposta ao jogo seguinte, a faixa escrito: “Mario, vá a Manchester também!”. Á época, o atacante explicou a um programa de televisão que não foi ver a equipe rossonera e sim a um bom jogo, porém, dias depois, em uma atração de humor, vestiu a camisa do Milan.

Em Manchester, Balotelli fez de tudo. Aquele que sempre acreditou nele, Mancini foi um rival forte. O técnico compatriota sofreu e combateu o ingovernável Balo: foi substituído, após jogada descontraída em amistoso nos Estados Unidos, e não gostou; em uma das suas diversas expulsões, na derrota por 1 a 0, contra o Arsenal, recebeu grande bronca do treinador ainda em campo e chegou a trocar empurrões em treinamento com Roberto Mancini. No meio dessas confusões, o centroavante italiano declarou à revista Time, na qual foi capa em novembro de 2012, palavras importantes sobre o técnico que o deu a primeira chance na Inter: “ele me conhece desde pequeno, ele é como um pai para mim”.

As aparições fora de campo também chamaram bastante a atenção na Inglaterra. Em Manchester, Balotelli colocou fogo no banheiro da própria casa, depois de soltar fogos de artifício pela janela do cômodo. A história mais impressionante da conturbada trajetória fora de campo do atacante ocorreu uma semana antes do natal de 2011 e mostra que falamos de um caso típico de “louco do bem”. Na data, várias pessoas relataram que viram o SuperMario vestido de papai noel, distribuindo dinheiro para quem passasse por perto. Obviamente não há nenhuma foto ou vídeo sobre o acontecido que parece fadado a ficar sempre no imaginário de todos.

Porém, o preconceito racial é o tema polêmico que acompanho Balotelli há mais tempo na carreira. Desde quando ainda não era profissional, o descendente de ganeses se destacava como o único negro dos times que defendeu na infância, mas nunca sofreu preconceito dos companheiros. Isto se tornou mais comum ao vestir a camisa da Inter, quando se tornou alvo dos insultos pela torcida da Juventus (hoje, jogando no Milan, os interistas também xingam Balo), que chegou a levar uma faixa: “não há negros italianos”. A resposta sempre foi pedindo silêncio depois de marcar.

Sobre o racismo que vem sendo vítima desde o início da trajetória futebolística, SuperMario falou na mesma entrevista à revista Time já citada na matéria: “as pessoas racistas são minoria e você não pode fazer nada para mudá-las” e completou, “você pode falar, fazer o que quiser, mas nada adiantará, pois eles são estúpidos”. E, contra este tipo de coisa, Balotelli segue levando a vida e superando cada obstáculo através dos gols e do bom futebol. Mas o camisa 45 tem um sonho e não esconde de ninguém, que a Itália, que viveu um regime fascista, mude. “Eu, pessoalmente, espero que a eu possa ajudar ao meu país a se tornar moderno como a Inglaterra ou a América”.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Dossiê Fernandinho

Nesta quinta-feira, Fernandinho foi oficializado como novo jogador do City, onde o sucesso ainda maior o espera (mcfc.co.uk)

O meia-central londrinense Fernandinho finalmente deixou o Shakhtar Donetsk para acertar com o Manchester City, por um valor que pode variar de 30 milhões a 40 milhões de euros (Shakhtar informa o preço maior). Depois alguns anos em que o nome do camisa sete do clube ucraniano era ligado aos grandes times da Europa e, principalmente, às equipes da English Premier League, ele finalmente foi negociado.

Antes de falar sobre a contratação, vou deixar um depoimento sobre o caráter do meu conterrâneo. Em 2005, com 13 anos, ainda era um menino tímido, mas que já contava com uma paixão enorme sobre o futebol, independentemente se fosse o meu time que estivesse em campo, eu queria ver o que ia acontecer dentro das quatro linhas. Nisso, em uma das visitas do Atlético Paranaense para enfrentar o Londrina pelo estadual, quis ir ao hotel para pegar autógrafos com os jogadores do Furacão. Um deles seria especial: o à época meia-atacante Fernandinho era o meu grande alvo.

Durante o dia, minha mãe ligou no hotel para confirmar se o jogador com nome de Fernando estaria hospedado ali mesmo. A recepcionista disse não poder passar a informação, mas, com jeitinho, a dona Carla conseguiu a informação. O Fernando, que já era conhecido como Fernandinho, estava na cidade. Portanto, à noite fomos ao hotel e minha mãe foi comigo ao local. Chegando lá, nada do ônibus do Atlético e, além de mim, apenas duas mulheres, com roupas bastante curtas, que depois foram abordadas por um jogador. Com alguns minutos de espera, o elenco rubro-negro apareceu.

Fernandinho foi um dos últimos atletas a desembarcar e, por estar em sua cidade natal, desceu do ônibus acompanhado do pai. Pela minha timidez, minha mãe atuou quase como uma porta-voz minha. Foi ela que abordou o londrinense para pedir o autógrafo para mim, dona Carla comentou com o jogador o fato de eu ser tímido. A resposta de Fernandinho direcionada ao garoto de 13 anos foi: “não pode ser assim, vá em frente e deixe isso de lado”. De fato, anos depois, esta característica deixou de fazer parte da minha personalidade, querendo ou não um dos meus ídolos da época, me passou este ensinamento que faz diferença na minha vida até hoje.

Recentemente conversei com uma pessoa ligada ao Atlético Paranaense e que, nos últimos tempos, foi próxima de Fernandinho e só elogiou o comportamento do atleta dentro e fora de campo. A proximidade com a família, tendo os parentes ao lado sempre que possível com certeza faz parte da formação que recebeu em Londrina e que faz diferença na trajetória futebolística sem grandes polêmicas de Fernandinho. Em entrevista ao site oficial do PSTC, o jogador falou da importância dos familiares: “Sem dúvidas a família na carreira de um atleta é tudo, não há outra palavra para expressar quanto a isso”.

O início em Londrina
 Em 2002, Fernandinho era o capitão e principal jogador do PSTC que foi bicampeão Paranaense Juvenil naquele ano (PSTC.com.br)

Fernando Luiz Roza, o Fernandinho foi mais um fruto do clube londrinense PSTC, que também revelou Kléberson, Jádson, Rafinha e Dagoberto. “Ferna”, apelido que ficou conhecido na Ucrânia, começou no futebol jovem e chegou à primeira equipe aos 14 anos. O primeiro a perceber o talento no londrinense foi um nome bastante conhecido do futebol paranaense, o olheiro Ticão, que teve passagens por PSTC, Cruzeiro e Atlético Paranaense

Conhecido pelo olho clínico, Ticão morreu em janeiro deste ano, duas semanas após receber a visita de Fernandinho. O londrinense jamais esqueceu quem o descobriu e durante as férias fazia questão de reservar um tempo para estar com o olheiro. Ao fazer a reportagem de despedida do personagem histórico do futebol paranaense, a Gazeta do Povo ouvi a tia de “Ferna”, Aparecida Conceição Roza, que falou da importância de Ticão na trajetória futebolística do sobrinho. “Ele foi um dos que ajudaram na ida do Fernando para o Atlético, e mesmo no PSTC deu uma ajuda muito grande. Foi uma pessoa que sempre acompanhou o Fernandinho de perto”, destacou ela. No dia da morte, Fernandinho afirmou no Twitter: “O futebol paranaense perdeu o homem que tinha olhos de águia”.

O londrinense chegou ao PSTC, em uma época que o grande celeiro de jogadores ainda não tinha estrutura que possui hoje. Os primeiros trabalhos de Fernandinho no clube foram nos campos da Universidade Estadual de Londrina e não no Centro de Treinamentos próximo ao aeroporto da cidade. No PSTC, “Ferna” aprendeu valores, disciplina (algo que acredita ser o principal na carreira de um jogador de futebol), venceu títulos e, claro, amadureceu o talento natural.

À época, PSTC mantinha uma parceria com o Atlético Paranaense e, por isso, após o bicampeonato Paranaense Juvenil em 2002 a maior estrela e capitão da equipe seguiu para a capital do estado.

Aparecendo para o Brasil

No Atlético Paranaense, Fernandinho encontrou uma estrutura de nível europeu e um clube campeão brasileiro. Ambiente perfeito para se consolidar como grande promessa do futebol verde e amarelo. Meia-atacante veloz, de passes precisos e com bom chutes de fora da área, o londrinense se deu muito bem no rubro-negro e, em 2003, com 17 anos foi promovido ao time principal do Furacão.

Já figura carimbada nas seleções de base brasileiras, em 2003, foi convocado para disputar o Mundial sub-20 pelo Brasil nos Emirados Árabes Unidos. Reserva na campanha o londrinense entrou na final frente à Espanha de Iniesta e marcou o gol do título, aos 87 minutos de jogo e decretou a conquista verde e amarela com o 1 a 0.

Depois da taça com a seleção, Fernandinho voltou ao Paraná para ser vice-campeão Brasileiro em 2004 e, no ano seguinte, foi destaque do elenco que venceu com tranquilidade o Paranaense. Na mesma temporada, o Atlético Paranaense teve Fernandinho no grupo que foi vice-campeão da Libertadores e, na campanha, eliminou o Cerro Porteño do artilheiro da competição Santiago Salcedo e o Santos de Robinho. Na final, 5 a 1 no placar agregado para o São Paulo e o camisa dez Fernandinho foi titular apenas no jogo de ida, o empate em 1 a 1 no Beira-rio, pois a Arena da Baixada não contava com a capacidade para receber uma final de Libertadores. Na volta, no Morumbi, massacre tricolor e 4 a 0 no placar.

Conquistando a Europa
 Oito milhões de euros, oito anos e 14 títulos, para o Shakhtar Donestk, Fernandinho não saiu caro (AP Photo)

A qualidade demonstrada no Atlético Paranaense rendeu a transferência ao Shakhtar Donetsk por cerca de 8 milhões de euros. A trajetória no rubro-negro foi finalizada com 21 gols marcados em 105 partidas. A dificuldade de se adaptar ao futebol ucraniano foi amenizada pela grande presença de brasileiros no elenco dos “mineiros”.

Nos primeiros anos, os títulos já começaram a vir: Campeonato Ucraniano, em 2006 e 2008; Supercopa da Ucrânia, em 2008 e Copa da Ucrânia, em 2008. No ano em que ganhou tudo (2008), Fernandinho foi eleito o melhor jogador da temporada do futebol do país. Mas a única conquista europeia do clube e grande orgulho do dono do Shakhtar, Rinat Akhmetov (o homem do dinheiro) veio em 2009, com a vitória na Copa da Uefa.

Fernandinho foi titular na campanha que valeu o título, após cair na fase de grupos da Liga dos Campeões, o Shakhtar desembarcou no mata-mata da disputa da Copa da Uefa. A equipe eliminou Tottenham; CSKA, do artilheiro da competição Vágner Love; Olympique de Marseille e o rival local Dynamo de Kiev, na semifinal. Nas quatro fases, o londrinense foi peça chave para os “mineiros” e marcou quatro vezes. Na final, com a camisa sete, Fernandinho foi titular e viu Jádson marcar o segundo gol do Shakhtar, que decretou o título e o 2 a 1 na prorrogação frente ao Werder Bremen, de Diego, Naldo, Pizarro e Özil.

Nesta fase, o camisa sete descobria uma nova colocação em campo, jogando mais atrás, Fernandinho se tornou o que os ingleses chamam de meio-campista box-to-box, que desarma e também aparece no ataque. A nova função dentro das quatro linhas ajudou o londrinense a potencializar as qualidades.  Depois da grande conquista, o Shakhtar ainda venceu outros quatro campeonatos locais (2009-10, 2010-11, 2011-12 e 2012-13), três Copas da Ucrânia (2010-11, 2011-12 e 2012-13) e duas Supercopas (2009-10 e 2011-12).

Mas Fernandinho passou a ser melhor observado pelos grandes clubes europeus por conta dos bons desempenhos da equipe ucraniana na Liga dos Campeões. Isso também atraiu a atenção de Mano Menezes e rendeu convocações à seleção brasileira. Em 2011, o londrinense tinha se tornado titular entre os canarinhos após a Copa América. No amistoso contra Gana foi dele a assistência para Leandro Damião marcar o único gol da partida. Porém, em seu melhor momento em verde e amarelo se lesionou e não voltou a vestir a camisa da seleção.

O londrinense foi um dos principais responsáveis pelas campanhas marcantes do Shakhtar. Em 2012-13, na LC, os “mineiros” passaram pela fase de grupos deixando para trás o atual campeão europeu, Chelsea. Mas, nas oitavas de final, foram eliminados pelo Borussia Dortmund, que acabou vice-campeão da disputa. No Campeonato Ucraniano, Fernandinho foi campeão e melhor jogador do clube na temporada, segundo o amigo Saimon Mryczka, que acompanha de perto o que acontece na Ucrânia. Foram oito anos de Shakhtar, 284 jogos, 53 gols e 14 títulos.

O grande centro

Os seguidos anos de bom futebol e de idolatria da torcida dos “mineiros” resultaram na transferência para um grande centro do esporte. Porém, com situação financeira tranquila, o Shakhtar não queria se desfazer de seu grande destaque. Para que a negociação finalmente desse certo, Fernandinho teve que intervir diretamente no negócio, declarando que era um sonho jogar em um campeonato mais disputado. Além do pedido do jogador, o Manchester City também colaborou e desembolsou uma quantia absurda para ter o futebol do londrinense.

Fernandinho chegou declaração ao site oficial do City que o projeto de grandeza dos citzens o atraiu. “Minha ambição é ganhar todos os títulos, o time aqui é muito forte, e a grandeza deste clube e de sua torcida me atraiu. Profissionalismo é um coisa espetacular. Jogar em um grande clube e em uma grande liga me faz muito feliz. Eu espero poder retribuir tudo que o City está fazendo por mim”, destacou ele.

O londrinense tem tudo que é necessário para jogar bem no Manchester City. Com velocidade, força nos desarmes, passes precisos e boa chegada ao ataque, Fernandinho tem características perfeitas ao dinâmico futebol inglês. Nos citzens tem tudo para formar boa dupla de volantes com Barry, com Yaya Toure, jogando por dentro na linha de três meias, no 4-2-3-1, que deve ser armado pelo próximo treinador da equipe.

A chegada a um grande centro deve reaproximar o box-to-box à seleção brasileira, onde tem concorrência dura de  Paulinho e Hernanes, que hoje são os jogadores da posição no elenco de Luiz Felipe Scolari. Mas a minha aposta é que, nos próximos meses, Fernandinho já comece a receber os chamados de Felipão.  

Sucesso, Fernandinho, aquele garoto de 13 anos não é mais tímido, mas segue sendo seu fã. Arrebenta, Ferna!

sábado, 1 de junho de 2013

A sensação do mercado



 Entre os agachados, João Moutinho (o primeiro), Falcao García (no centro) e James Rodríguez (o último) tem muita coisa em comum: o histórico no Porto, o empresário Jorge Mendes e o fato de terem sido contratações milionárias do novo Monaco (AP Photo)

Acabamos de entrar no mês de junho e o campeão da Ligue 2 já investiu 115 milhões de euros em contratações. O Monaco é mais um caso de clube milionário com dinheiro vindo da Arábia ou da Rússia, como é o caso do time francês. Por isso, os monegascos estão chamando a atenção no mercado de transferências que foi aberto recentemente na Europa.

Desde dezembro de 2011 o russo Dmitry Rybolovlev é dono de 66% do clube. Médico que fez o dinheiro na indústria – principalmente no ramo de fertilizantes – hoje coleciona quadros de pintores famosos, é proprietário uma ilha no Havaí, quer comprar outra na Grécia, no nome da filha possui um apartamento de 88 milhões de dólares em Nova Iorque, é dono de uma mansão em Palm Beach com garagem para 50 carros no valor de 95 milhões de dólares e, claro, é dono do AS Monaco. Segundo a Forbes, em 2012, o novo comandante vermelho e branco era dono de uma fortuna estimada em 9,1 bilhões de dólares, o que o colocava como 119° homem mais rico do mundo. Portanto, dinheiro não é mesmo o problema deste novo Monaco.

Já com o russo como mandatário, os vermelhos e brancos conseguiram o título na Ligue 2, com alguma facilidade. Foram apenas quatros derrotas na campanha do acesso e seis pontos de vantagem em relação ao vice-campeão Guingamp. Mas o desempenho serviu mesmo para recolocar o time na elite e para dar sequência ao projeto de Dmitry Rybolovlev que quer fazer o Monaco tomar a ponta no futebol francês do também milionário PSG e, posteriormente, voltar a ter sucesso em nível europeu. O diretor esportivo do time, Vadim Vasilyev afirmou ao Telegraph que eles querem até mais do que isso: “Nós queremos construir um belo time, que jogue um futebol bonito”.

Para que o projeto se materialize o dinheiro está sendo muito bem investido neste mercado recém-aberto. Porém, o que chama a atenção é que, nas quatro contratações já realizadas, um elemento está por trás de todas elas: Jorge Mendes. O agente proprietário da Gestifute se notabilizou pela forte relação com outro portguês, José Mourinho. Por conta disso, hoje o empresário tem muitos jogadores no Real Madrid. Mas, nos últimos anos, os tentáculos de Jorge Mendes abraçaram o Porto e Atlético de Madrid também.

As quatro primeiras contratações monegascas, João Moutinho (22 milhões de euros), James Rodríguez (40 mi), Ricardo Carvalho (gratuita) e Falcao García (60 mi) têm Jorge Mendes como empresário e, durante a carreira, passaram pelo Porto. Os dois primeiros dispensam comentários e, em 2012-13, 44,8% dos gols (43 dos 96 gols) marcados pelos azuis e brancos na temporada ou foram anotados pela dupla ou tiveram a assistência de um dos dois. Falcao García anotou 40 gols em 50 partidas por Atlético de Madrid e seleção colombiana em 2012-13. Pelo desempenho dentro de campo, essas três primeiras contratações são incontestáveis, mas Ricardo Carvalho levanta muitas dúvidas. Porém, o zagueiro português deverá ter um papel fundamental nos bastidores do clube e no quesito de dar experiência ao novo elenco que está sendo formado.

A opção por Jorge Mendes como grande parceiro neste novo time também se reflete na provável aquisição do goleiro Víctor Valdés, mais um jogador ligado ao empresário português. Ter relação tão forte com um agente pode dar problemas, no Real Madrid foi assim. Os atletas que não eram de Jorge Mendes formaram um grupo e isolaram os jogadores ligados à Mourinho e ao chefe da Gestifute. A dificuldade de relacionamento dentro do elenco merengue foi bastante prejudicial ao desempenho da equipe no ano.

Por outro lado, desde 2011-12, quando Falcão chegou ao Atlético de Madrid, mesmo os rojiblancos tendo muitos jogadores do empresário português, não houve problemas deste tipo. No Porto, é a mesma coisa, a influência de Jorge Mendes só parece aumentar, mas o Dragão segue mandando no Campeonato Português. Portanto, cada grupo de jogadores reage de uma forma diferente a forte influência de um empresário no elenco. Este será um ponto importante para ser trabalhado pelo Monaco neste ano. Claudio Ranieri é o treinador e terá que ter muito apoio da diretoria e do homem do dinheiro para lidar com esta situação no Estádio Louis II.

*Os valores considerados nas transferências são os apresentados no site: http://www.transfermarkt.co.uk