sábado, 28 de junho de 2014

Copa do Mundo – Dia 17

Sobreviveu 

 Júlio César pegou dois pênaltis e se transformou no heroi brasileiro das oitavas de final (Ian Walton/Getty Images)

O que todos esperavam ocorreu. O Brasil mudou os onze iniciais e Paulinho foi para o banco, dando lugar para Fernandinho no meio-campo. Parecia o caminho ideal para vencer a marcação pressão do 3-1-4-2 chileno. Mas, na prática, não foi assim. O londrinense jogou abaixo, Oscar e os laterais não colaboraram com a saída de bola e Fred ou Jô não foram o centroavante necessário para o bom funcionamento do 4-2-3-1 de Luiz Felipe Scolari. 

O Brasil não tinha jogo, a bola ficava com o Chile (sem chegar ao gol defendido por Júlio César) e, eventualmente, os verde e amarelos conseguiam algo no contra-ataque. Mas faltava a finalização. Neymar estava apagado e, às vezes, trocava o chute por continuar conduzindo a bola. Se os canarinhos não conseguiram superar a pressão roja, outro ponto muito falado durante a semana ocorreu. Na bola aérea, a maior altura brasileira fez diferença. No primeiro poste, Thiago ganhou de dois rivais e, no segundo pau, David Luiz fez o primeiro do jogo e o primeiro dele pela seleção.

Como dito acima, o Brasil não superou a pressão adversária. Em lance assim, o Chile empatou em erro conjunto de Marcelo e Hulk. Vargas recuperou e tocou para Alexis Sánchez dominar e marcar. O 1 a 1 foi capaz de confirmar o melhor momento do jogo chileno, mas seguia faltando a chegada e, através da individualidade, o Brasil conseguia ser mais perigoso. No segundo tempo, o domínio da Roja aumentou e, defensivamente, liderada pelo baleado Medel, não havia sofrimento.

Felipão fez mexidas, mas nenhuma delas deu resultado e, se não fosse Júlio César, o Brasil teria sido eliminado no tempo normal. Neste momento, o comentarista da ESPN, Paulo Vinicius Coelho cunhou a frase que definiu a partida: “O Brasil perdeu o jogo, agora é ver se vai ganhar a vaga”. Se faltavam jogadas e inspiração, Hulk, que havia falhado no gol de empate, brigava muito e, desta forma, quase conseguiu decidir o jogo para os Samba Boys, algo que parecia improvável.

Fisicamente, os canarinhos se mostravam melhores, portanto, a prorrogação poderia trazer coisas boas. Mais uma vez, a teoria não se comprovou na prática. Neymar não conseguia fazer a jogada de desequilíbrio. A partida, facilmente confundida com um teste para cardíacos, parecia fadada a chegar na prorrogação. Faltou pouquíssimo para não chegar. Pinilla virou uma bola na entrada da área e acertou o travessão.

Apesar de não jogar bem, o Brasil havia conseguido sobreviver aos 120 minutos de bola rolando, seria capaz de resistir às cobranças de pênaltis? O criticado e maior ponto de interrogação da seleção, Júlio César chorou antes da disputa, mostrando a emotividade característica. Porém, na hora que tinha que aparecer, mostrando frieza, o camisa 12 esteve lá. O goleiro brasileiro pegou duas cobranças e contou com a trave, para liderar a vitória brasileira por 3 a 2. Ao final, novamente, teve choro, mas, desta vez, as lágrimas expressavam alívio e alegria.

Sem alegria e sem bom futebol, os Samba Boys passaram às quartas de final, deixando para trás um Chile fortíssimo e muito aplicado, fruto de um trabalho espetacular de Jorge Sampaoli. A partida mostrou os problemas brasileiros, como a reincidência da falta de saída por baixo, os problemas dos centroavantes convocados e Daniel Alves sempre deixando espaço para os rivais jogarem. Além de superar estes desafios, para as quartas de final, o Brasil precisará conseguir jogar bem sem o suspenso Luiz Gustavo, um dos melhores jogadores da seleção, no Mundial.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Copa do Mundo – Dia 16

Intensidade e altura

Neymar é um dos artilheiros da Copa, com quatro gols, e vai liderando o Brasil (Matthew Lewis/Getty Images)

Escrever mais sobre a melhor exibição do Brasil, na Copa do Mundo, não é necessário, por isso, ousarei prever o próximo passo da seleção. O confronto contra o Chile promete ser muito interessante. Apesar deste Mundial ser tão bom exatamente por ser imprevisível, não há como imaginar uma partida fácil para nenhuma das duas equipes e, sim, um duelo aberto recheado de aspectos muito interessantes. 

O Chile se caracterizou nesta Copa por estar conseguindo se adaptar ao estilo de jogo, que o adversário lhe propõe. Na estreia, a adversária foi a Austrália, uma equipe mais defensiva. Portanto, Sampaoli jogou no 4-3-1-2, com Valdívia muitas vezes se unindo à dupla de atacantes, composta pelos móveis Alexis Sánchez e Eduardo Vargas. Além disso, o trio de meias tem Aránguiz e Vidal buscando mais o ataque, enquanto, Marcelo Diáz (o segundo jogador que mais correu no Mundial, 36,7 km) faz o balanço defensivo, quase funcionando como terceiro zagueiro. A formação do trio atrás dá liberdade aos dois laterais, Isla à direita e Mena à esquerda. 

Ter estreado no Mundial com um esquema, que não é o habitual da Roja, mostra como Sampaoli tem o grupo na mão. Para bater a Espanha e também contra a Holanda, o sistema com três zagueiros de início voltou a imperar – deve ser a escolha para enfrentar o Brasil. O 3-1-4-2 faz parte do repertório chileno há muito tempo, pois Marcelo Bielsa usava o esquema como variação do seu preferido 3-3-1-3. Além do trio atrás, o Chile de Sampaoli tem outros elementos clássicos do jogo de El Loco: a pressão na saída de bola adversária, troca de passes (top cinco no ranking de passes completados) e estilo ofensivo.

 Chile - Football tactics and formations

Não por acaso, a primeira característica que citei foi a pressão na saída de bola. Pois esta alternativa também é uma das principais da equipe brasileira e, frente aos camaroneses, foi responsável por dois gols verde e amarelos. Portanto, devemos ver um duelo insano na saída de bola. Até aqui, quem está vencendo, é o Chile, que, com os laterais e boa participação dos meias, tem conseguido sucesso na proposição de jogo. Os Samba Boys sofrem neste quesito e, contra a Roja, devem sofrer ainda mais, afinal, o adversário tem a marcação pressão como ponto forte.

O problema brasileiro na saída de bola vem desde o primeiro jogo da Copa e até dos amistosos. As fracas atuações de Paulinho e dos laterais, que são fundamentais para a construção dos ataques desde o campo defensivo, são os pontos centrais para o entendimento do problema crônico verde e amarelo. As saídas têm sido realizadas ou em lançamentos dos zagueiros e Luiz Gustavo ou em contribuições inconstantes de Neymar (o craque tem aparecido melhor no ataque), Oscar e Hulk, o que é pouco. 

 Fernandinho entrou contra Camarões e mostrou um nível de futebol altissímo, o que deverá fazê-lo titular contra o Chile (Buda Mendes/Getty Images)

Olhando o perfil do rival e a ótima participação de Fernandinho, contra Camarões, a mudança do 2° volante se mostra como fundamental e alternativa mais clara para enfrentar os chilenos. No meio tempo em que ficou em campo, o camisa cinco se mostrou à vontade para participar desta saída de bola. Talvez, com a entrada dele, não só a saída pelo centro melhore e, pelos lados, também evolua, com melhor inclusão de Daniel Alves e Marcelo nesta dinâmica. 

A falta de estatura chilena, compensada por muita velocidade, não traz orgulho e causa preocupação, afinal é a menor altura média da Copa (1,76m). Antes do Mundial, um dos três zagueiros, Jara, de 1,78m, explicou a questão: “Esse assunto já é velho, já foi falado demais. Não temos defensores tão altos como antes, é verdade. Mas lidamos bem com isto”. Este é um caminho que pode ser explorado pelos brasileiros, pois os Samba Boys têm jogadores altos e uma média bem superior aos chilenos (1,81m). 

Como dito por Jara, a falta de altura é um problema maior na defesa. Afinal, além do jogador de 1,78m estão Silva, de 1,78m e Medel, 1,72m. Outro nome que, por muitas vezes, compõe a defesa é o 1° volante Marcelo Diáz, de 1,67m. Os verde e amarelos deverão ter dentro da área o centroavante Fred, que tem 1,85m, proporcionando uma clara vantagem para o jogo aéreo do nove brasileiro, que tem os cabeceios como uma das armas para marcar. Nos escanteios e faltas laterais, normalmente, bem cobrados por Neymar, os canarinhos devem ter Luiz Gustavo (1,87m), David Luiz (1,89m) e Thiago Silva (1,83m) dentro da área. Mesmo que a defesa roja receba apoio de jogadores mais ofensivos, entre os onze iniciais, apenas Vidal alcança a marca do 1,80m, portanto, a superioridade de altura seguiria. 

Portanto, explorar a bola alta pode ser uma saída bem interessante para o Brasil. Mas não há como fazer dela a única alternativa, pois, nos últimos jogos, como já dito acima, a seleção sofreu bastante com a falta de saída de bola pelo chão. Por isso, mesmo jogando contra La Roja, que dificultará o início das jogadas, os Samba Boys devem alternar o jogo aéreo e longo com os passes curtos e rasteiros. Para isso ocorrer, a entrada de Fernandinho como titular parece quase obrigatória, pois, em 45 minutos, contra Camarões, o londrinense trouxe àquilo que é cobrado. Porém, além disso, Oscar terá que participar mais dessa saída de bola e contar com apoio dos laterais neste trabalho, conseguindo dar a alternância ao jogo verde e amarelo, fundamental para a vitória contra a boa seleção chilena.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Copa do Mundo – Dia 13

Uma despedida digna 

David Villa fechou a trajetória na Roja com esta letra e atuação memorável na Arena da Baixada (Jeff Gross/Getty Images)

Os curitibanos sofreram com o sorteio dos jogos para a cidade, porém havia grande expectativa para a partida Espanha e Austrália, que teria os campeões do mundo como protagonistas. Porém, La Roja e os Socceroos chegaram à última rodada eliminados. De qualquer forma, a Arena recebeu um público bem interessante. Mas, apesar do interesse ser mesmo pelos espanhóis, a torcida optou por vaiá-los e torcer contra. 

Como doente por futebol que sou, estava muito ansioso para ver os últimos passos de Xabi Alonso, Xavi e Villa e, provavelmente, de Casillas e Pepe Reina. Se pensarmos apenas em mundiais, com certeza, somaríamos aos cinco, Fernando Torres. Portanto, grande parte da geração supercampeã e alguns protagonistas. Logo que a Furia chegou e foi visitar o gramado fui à beira do campo e pude gritar para alguns jogadores, sempre gritando três vezes até receber o retorno. O primeiro a me cumprimentar foi Javi (Martínez), depois foi a vez de Santi (Cazorla) e, por fim, um dos meus preferidos, Xabi (Alonso), sempre procurado quando o jogo estava apertado.

Apesar de vaias, a Espanha foi para o jogo disposta a deixar uma boa impressão. No 4-3-3, que, com a avanços de Iniesta, se tornava um 4-2-3-1, La Roja controlou as ações da partida. Porém, não começou bem, era óbvio o nervosismo da equipe, pois eles se obrigavam a vencer. Aos poucos, o domínio foi sendo conquistado, Cazorla, Xabi Alonso e Don Andrés passaram a comandar o meio-campo e, pela ponta esquerda, Villa e Jordi Alba colocavam McGowan louco. 

Mas, para abrir o jogo, nada pode ser melhor que Iniesta. O camisa seis fez passe no “costado da zaga” e descobriu Juanfran livre. O lateral-direito, que estava em ótima tarde, foi ao fundo e, no momento certo, cruzou rasteiro para trás. Villa chegou e guardou de letra. O 1 a 0 aumentou o controle da partida para os espanhóis. Os socceroos, apesar da boa torcida, não tiveram forças para reagir. Com Don Andrés e Xabi Alonso dominando totalmente as ações pelo centro e com o restante do grupo se mexendo muito e sempre dando opções de passes, não havia o que temer. A Espanha faria mais gols.

Antes de anotar mais, o que mais fez isso com a camisa roja se despediu. Aos 12 do 2°T, o maior artilheiro da história da seleção espanhola, David Villa, com 59 gols em 97 partidas, deu lugar a Mata. No caminho para sair de campo, El Guaje demonstrou emoção e foi cumprimentado/consolado por vários companheiros. No banco, não foi diferente, abaixou a cabeça e recebeu o carinho por membros da equipe da Roja

Se Villa estava provavelmente se despedindo, Iniesta mostrou que ainda tem muito a dar para a seleção. Foi dele a assistência primorosa para Torres marcar o segundo. Este foi um dos 80 passes completados pelo camisa seis, o maior passador da partida, que terminou com um índice de 88% de acertos. Para o final, ficou o gol de Mata, após outra boa assistência, desta vez, de Fàbregas. 

Mesmo com o 3 a 0, os espanhóis não saíram felizes e não fizeram nenhuma festa ou agradecimento especial ao público curitibano. Em seu Facebook, Iniesta publicou um texto, que justifica isso: “A decepção por voltar tão cedo para casa é muito grande. Tínhamos muita ilusão de poder fazer um bom Mundial e não foi possível. Lhes peço desculpas e lhes asseguro que trabalharemos para voltar a colocar a seleção onde ela merece”. A Furia precisará muito de Don para voltar ao topo, o camisa seis deverá ser um dos líderes da nova geração, que transborda em qualidade.

Para a Austrália, a vinda ao Brasil valeu pelas boas exibições nas duas primeiras partidas, apesar das derrotas. Claro, o carisma dos australianos também contou. Ao final do jogo, Bresciano, que havia vindo bem do banco, pegou duas das bolas da partida, se encaminhou ao setor onde estavam os familiares dos australianos e entregou uma delas a um amigo/parente. A segunda brazuca foi rifada para a galera. Além disso, alguns dos australianos, fizeram questão de dar a volta em todo o campo, para aplaudir a torcida.

Podia até não valer nada, mas foi espetacular.

sábado, 21 de junho de 2014

Copa do Mundo – Dia 9



Finalmente, a experiência in loco e o sonho está realizado

 A Arena da Baixada estava cheia e a maioria vestia o amarelo, do Brasil ou do Equador (Manoella Nolasco)

Chegou a o dia que tive uma das grandes histórias da minha vida. Fui à uma Copa do Mundo e, para completar no meu país. Antes da partida, poucos esperavam algo de Equador e Honduras, mas, com a vitória francesa categórica frente aos suíços, as equipes se permitiram sonhar com a classificação. Por isso, vimos um jogo bastante aberto.

Desde a chegada à Curitiba, no dia 19, fiquei impressionado com a organização do aeroporto e os enfeites, que preenchiam o local. Tudo decorado em verde e amarelo e equatorianos e hondurenhos também estavam presentes. No local, além da decoração especial, havia uma área chamada “Fun Zone”, onde ficavam videogames, televisão com os jogos, voluntários da FIFA para orientação e espaço para descanso, naquele momento, ocupado por estrangeiros.

Mas chegar à capital não acabava com a minha ansiedade, eu queria estar lá dentro e queria reencontrar a Arena da Baixa, que já havia achado espetacular em 2009. Antes de partir, conheci Cézar, que era quase família e estava hospedado na casa de um dos meus primos de Curitiba. Fomos juntos e encontramos o Gui Lopes, sim, o companheiro de Trifon Ivanov, camisa dez do Bonde dos Chilenos, e a sua futura esposa, a Tati. Conversamos um pouco e, pouco antes das 18h, partimos para o Estádio, isso depois de já termos passado por dois cordões policiais, onde fomos revistados e apresentamos nossos ingressos.

Na rua da Arena, me despedi dos amigos, meu caminho era outro – um tio norte-americano e uma prima já partiram para o Estádio separados. Fui sozinho para o portão cinco, que ficava longe. No caminho só alegria e a maioria vestia o amarelo do Equador, a minha escolha para a partida. Depois de pegar uma fila de uns 15/20 minutos, que pareceram uma eternidade, cheguei ao Estádio e, em mais uns cinco minutos, entrei. Primeira coisa, visitei o banheiro padrão FIFA e fui para o meu lugar.

Ao encontrar meu bloco, um fiscal pegou o ingresso comigo e me indicou o meu assento. Fiquei por ali. Logo meu vizinho, também sozinho, sentou e começamos a conversar. Ali ocorreu algo que nunca imaginei, o meu novo amigo era E-GÍ-PI-CIO. O português dele fluente tinha explicação, morava há oito anos em Curitiba. Depois, ele trocou de lugar com um mexicano, Alfonso Cruz, mais um amigo para mim. Com ele, falei muito sobre futebol. Torcedor do Puebla, estava muito animado com as chances dos mexicanos e, principalmente, para o próximo jogo. No dia 23 de junho, ele irá à Arena Pernambuco para aquilo que chamei de a “primeira final” de El Tri, contra a Croácia. Animado, Alfonso falava: “seremos locales em Recife”.

Nenhuma outra coisa poderia me proporcionar isso. Portanto, só agradeço ao Mundial e fico feliz, pois semana que vem tem mais.

O jogo

 Enner agradece aos céus: a Arena viu mais uma grande exibição do camisa 13 equatoriano (Julian Finney/Getty Images)

Maioria em Curitiba, os equatorianos deram show. Entoando várias vezes: “Somos ecuatorianos y esta noche tenemos que ganar”. Apesar da força das arquibancadas e a importância que o jogo tinha ganhado, o Equador não foi absoluto, Honduras conseguiu equilibrar as ações. No lado sul-americano, aquele 4-4-1-1, com Enner Valencia circulando mais e tendo Caicedo como nove fixo. Em Honduras, o 4-4-2 era escolha e o ataque tinha os grandalhões Costly e Bengston, pressionando a dupla de zaga da Tri.

Desta forma, o jogo foi muito aberto. Às vezes, falha individuais colaboravam, mas Curitiba viu uma grande partida. Novamente, Enner era o melhor da Tri e era quem aparecia nos melhores momentos. Inclusive, perdeu gol incrível. Além dele, os equatorianos tinham muito de Noboa, que controlava o centro do campo (sete roubadas de bola), e Paredes e Ayoví, laterais que avançavam muito.

Honduras tinha a alternativa da bola longa, que, normalmente, buscava Carlos Costly. Além disso, Espinoza, meia-esquerda de La H, tentava muito e colaborava ofensiva e defensivamente. O gol saiu em uma falha equatoriana e Costly recebeu livre para marcar de canhota. O 1 a 0 quase virou o estádio para os hondurenhos, mas o empate, logo depois, manteve o domínio da Tri. Em uma das subidas, Paredes arrematou do bico da área e, no outro lado, a bola sobrou para Enner marcar o 1 a 1.

A igualdade animou os equatorianos. Reinaldo Rueda chegou a mudar de lado os pontas, Antonio Valencia (jogador do United faz Mundial muito ruim) foi para a esquerda e Montero para a direita, pois ambos não rendiam nos flancos habituais. A partir da troca, o Equador cresceu e a torcida foi junto. Com este espírito, La Tri passou a dominar ações, mas sempre sofrendo em contra-ataques e nas bolas que procuravam Costly, que dominava a defesa equatoriana.

O jogo seguia no mesmo ritmo e, apesar do domínio, La Tri não conseguia as melhores chances. Honduras fazendo o jogo que havia se proposto: com menos posse de bola (no final, igualou o número) e menos ataques, era perigosa (teve mais chutes no alvo, inclusive) e causava preocupação nos equatorianos, que estavam sentados perto do meu lugar. Mas o gol da vitória foi marcado por Enner. Assim como no primeiro jogo, ele subiu mais alto que a defesa adversária e, de cabeça, fez o 2 a 1. Terceiro gol do Equador no Mundial e terceiro do jogador do Pachuca.

No mesmo esquema dos 90 minutos, Honduras chegou assustar os sul-americanos. Domínguez teve que aparecer com defesas importantes, para garantir o placar favorável. Após o gol da vitória, em minha frente, um equatoriano abaixou a cabeça e, quando levantou, lacrimejava. O “si, se puede”, que eles tanto gritaram e, talvez, nem acreditassem muito, ocorreu. Equador chega vivo à última rodada e, dependendo do resultado de Suíça e Honduras, poderá se classificar à segunda fase com um empate.

O ponto negativo

Logo depois que o mexicano sentou ao meu lado, uma voluntária da FIFA acionou um dos Stewards para checar se o meu novo amigo tinha ingresso. Não, isso não é coisa de esquerdista, que vê preconceito em tudo. Com o rosto típico dos latinos, Alfonso, após já ter apresentado o ingresso em, pelo menos, quatro barreiras, passou pelo constrangimento de ter, mais uma vez, provar tinha sido comprado a entrada para o jogo.

Não vou me alongar, mas, após o caso, apenas falei para Alfonso: “preconceito, este é um dos grandes problemas do Brasil, tem muita gente que tem dificuldade para conviver com negros e pardos. Te peço desculpas pelo país”. O mexicano, praticamente, ignorou o caso e continuamos conversando. Portanto, a Copa do Mundo é um claro retrato do Brasil, pois o povo é impressionante, a miscigenação é potencializada. Porém, infelizmente, o preconceito ainda está aí.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Copa do Mundo – Dia 7

Classificada e com opções
 
 Memphis Depay entrou em campo, mudou o esquema e o jogo, com um gol e uma assistência (Dean Mouhtaropoulos-Getty Images)

A Holanda havia sido a grande surpresa da primeira rodada, ao golear os atuais campeões mundiais, por 5 a 1. A Austrália também boa estreia, mas acabou derrotada pelo Chile. Apesar dos bons desempenhos iniciais das duas seleções, as apostas giravam em torno de outra goleada da Oranje. Mas não foi assim. Desta vez, Postecoglu armou o time no 4-3-3, deixando Bresciano um pouco mais recuado e dando bastante liberdade aos bons pontas, Leckie e Oar. A Holanda manteve o 3-4-1-2, que deu muito certo frente à Roja

Em Porta Alegre, o sistema holandês não funcionou. Marcando pressão, os Socceroos dificultavam a saída de jogo adversário. E, sim, a Oranje só chegava em contra-ataques contra a Austrália. Os australianos propunham o jogo, tendo Cahill coordenando as ações e Leckie muito ativo pela ponta direita. Dependendo dos contra-golpes, a Holanda abriu o placar assim, com Robben disparando, após receber passe de Blind – terceira assistência dele no Mundial. A resposta veio rápida e foi maravilhosa. McGowan fez lançamento da intermediária e Cahill finalizou de primeira à Van Basten, com a canhota. Golaço. 

A Holanda não tinha jogo, Sneijder, fundamental ao esquema, não funcionava, por isso, teve sorte. Martins Indi se lesionou e a grande revelação da Eredivisie, Depay teve que entrar em campo. Portanto, Van Gaal voltaria ao segundo tempo com o tradicional 4-3-3. Mesmo com a mudança, a Austrália chegou primeiro ao gol. Bozanic, que havia acabado de entrar, cruzou bola na área e ela tocou a mão de Janmaat, que claramente estava querendo recolhê-la. Porém o árbitro assinalou pênalti e Jedinak marcou o 2 a 1. 

Porém, a mudança de Van Gaal começou a dar resultado. Pela ponta esquerda, Depay começava a aparecer e mostrar habilidade e velocidade. Sneijder também passou a participar mais do jogo. O camisa dez passou para o ponta-esquerda, que passou para Van Persie marcar o empate. A Oranje cresceu com o gol, os quatro homens mais avançados se movimentavam muito e participavam bastante do jogo. A volta ao domínio do placar veio dez minutos depois do empate. Novamente, boa combinação de passes pela esquerda e De Guzmán passou para Depay acertar belo chute. O goleiro Ryan caiu atrasado e não conseguiu chegar na redonda. 

O 3 a 2 fez com que a seleção australiana fosse buscar o ataque. Leckie seguia bastante ativo, mas já sem Cahill, os Socceroos não tinham o mesmo poder ofensivo e, portanto, chegavam menos ao gol defendido por Cillessen. Com a Austrália jogando mais à frente, a Holanda teve espaço e ficou bem próxima de conseguir um quarto gol, principalmente, em jogadas finalizadas por Robben. 

A vitória classifica a Holanda e mostra que Van Gaal já tem opções para dois tipos de jogos. Quando tiver que atacar, vai com o 4-3-3, tendo Depay entre os onze iniciais, e, se for um jogo que exige mais da defesa, o 3-4-1-2 poderá ser utilizado. Para a Austrália, a classificação se torna impossível, mas os Socceroos poderão ser orgulhar por terem feito muito mais do que imaginavam deles na Copa.

A Espanha ouviu “olé” 

 Jorge Sampaoli aprimorou o trabalho de Bielsa e, em um grupo muito difícil, consegue a classificação de forma antecipada (David Ramos/Getty Images)

Uma final no Maracanã, assim que a partida foi encarada, afinal, a Holanda tinha vencido e, praticamente, se garantiu na segunda fase, deixando uma vaga no grupo. Por isso, apesar de terem tido resultados diferentes na primeira rodada, Espanha e Chile optaram por mudanças no esquema de jogo. Os europeus vieram no 4-2-3-1, com Javi Martínez na vaga de Pique e com Pedro no lugar de Xavi. Já os sul-americanos retornaram ao esquema habitual, o 3-4-1-2, tendo Vidal atrás de Vargas e Alexis Sánchez. 

As duas seleções entraram marcando pressão, o que dificultava a saída adversária. Mas quem teve mais problema com isso foi a Espanha, a Furia Roja não vencia a primeira linha de marcação chilena. Foi assim que a Roja sul-americana conseguiu o primeiro gol. Xabi Alonso errou passe, Vidal recuperou e tocou para Aránguiz assistir Vargas. Naquele momento, a vitória chilena já podia ser mais elástica, afinal, tinham as melhores oportunidades. Quando conseguia chegar ao ataque, ao invés de ficar trocando passes, os espanhóis logo buscavam o toque final. Porém, apesar de muita qualidade dos meias espanhois, a bola parecia não chegar boa para a finalização. Mérito da defesa chilena. 

O Chile conseguiu mais um gol antes do intervalo. Casillas, muito mal na Copa, rebateu falta para o meio da área e, no rebote, Aránguiz marcou o 2 a 0. Com a derrota e a virtual eliminação, a Espanha voltou diferente para o segundo tempo. Um daqueles que é tido como “Xavi do futuro”, Koke veio para o lugar de Xabi Alonso, que fazia partida muito ruim. Após as mudanças, a Furia Roja deu sinais de que poderia se recuperar e chegou a ter boas chances de gol. Porém os chilenos se adaptaram à nova situação do jogo e voltaram a controlar as ações, inclusive, tendo oportunidades de marcar o terceiro gol e dando olé nos espanhóis. 

Com a melhora no segundo tempo, a Espanha teve mais posse de bola e mais chutes no alvo, porém não adiantou. Quando a bola ia no gol, o bom goleiro Bravo fazia defesas de um jogador do nível dele. Não era dia e não foi a Copa do Mundo da Espanha, com direito a gritos de “olé” e “e-li-mi-na-do”. Com a eliminação, a atual campeã do mundo se soma às recentes eliminações de seleções, que detinham o mesmo posto. França (2002) e Itália (2010) também se despediram do Mundial, na primeira fase. É hora de reformular e pensar na frente, pois o país tem jogadores de muita qualidade para o futuro e tem membros desta geração que podem seguir no grupo, como pilares para os próximos anos. 

A vitória categórica e a classificação antecipada, mostram a força do trabalho iniciado por Marcelo Bielsa e seguido por Jorge Sampaoli. A ousadia, a pressão alta e a adaptabilidade tática mostrada pela Roja mostram que, na fase de mata-mata, o Chile deve ser adversário duro para qualquer um.

Mostrou força 

Mandzukic chegou para a Copa do Mundo e já marcou duas vezes (Stu Forster/Getty Images)

Antes da bola começar a rolar, a Croácia se colocava como segunda seleção mais forte do grupo A. Após fazer jogo duro contra o Brasil, mas perder por 3 a 1, os europeus precisavam de uma partida para mostrar a força prometida. Camarões sem o principal jogador, Eto’o seria o adversário ideal, pois os Leões Indomáveis eram tidos como a pior equipe na chave A da Copa do Mundo. Para completar, os Vatreni, finalmente, teriam Mandzukic entre os onze iniciais.

Volker Finke manteve os africanos no 4-1-4-1, mas, desta vez, com Matip de 1° volante e Song um pouco mais à frente. A Croácia de Kovac manteve o 4-2-3-1, com Rakitic e Modric compondo a volância, mas mudou no centro da linha de três meias: ao invés de Kovacic, Sammir foi ladeado por Peresic à direita e Olic à esquerda. Surpreendentemente, Camarões começou melhor, com boa participação de Aboubakar. O substituto de Eto’o aparecia nas pontas e dava trabalho. Mas foi apenas um bom início, os croatas controlaram a partida. O placar foi aberto por Olic, após receber ótimo passe de Peresic e, antes do final do primeiro tempo, os croatas ficaram com a situação mais tranquila. Em ataque de fúria, Song deu um soco nas costas de Mandzukic e foi expulso.

Com um jogador a mais e a vantagem no placar, os Vatreni não aliviaram e seguiram dominando o jogo. Esta vontade croata ficava clara ao se observar a movimentação do centroavante estreante, que não ficava apenas parado no ataque e contribuía muita na marcação. Em uma dessas jogadas de transpiração dos homens de frente, Itandje saiu mal do gol, Peresic recuperou e só foi parar dentro do gol. O 2 a 0 também não foi capaz de diminuir o ímpeto da goleada para os croatas. Mandzukic, que ainda não havia marcado, fez o terceiro, após cruzamento de Pranjic.

A partir daí, Kovac começou a rodar o elenco. Sacou o cansado Olic, que faz boa Copa, para colocar Eduardo Da Silva e, depois, teve Kovacic (com espaço, foi bem) no lugar de Sammir. Em um chute do brasileiro-croata, Itandje deu rebote e Mandzukic marcou o segundo dele no Mundial, o quarto da goleada. E, por incrível que pareça, a Croácia seguiu tendo as melhores chances quase marcando o quinto. 

A goleada mostrou a força da Croácia e, claro, aumentou a expectativa para o confronto contra o México, que deve decidir quem acompanhará o Brasil na próxima fase, pois os africanos não devem ter força para segurar os canarinhos. Por isso, esta goleada é uma boa notícia para a seleção brasileira, que enfrentará os Leões Indomáveis, que, atualmente, estão longe de honrar o apelido.



A partir de amanhã, parto para Curitiba, onde ficarei por um bom tempo. Portanto, o diário da Copa do Mundo deve mudar um pouco. Não poderei fazer post de cada jogo, mas, em compensação, trarei coisas legais de uma sede do Mundial. Acho que o blog ganhará mais do que perderá com esta viagem.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Copa do Mundo – Dia 6

Solução no banco

 
 Mertens foi um dos reservas que entrou bem e colaborou com a virada, fazendo o gol decisivo da partida (AP Photo)

Marc Wilmots escalou a Bélgica no tradicional 4-1-4-1. Witsel mais atrás, De Bruyne à direita, Dembele e Chadli no meio e Hazard à esquerda. A escolha mais questionável – e menos habitual – foi a escalação da dupla do Tottenham pelo centro do meio-campo, para deixar um batalhão de jogadores em melhor fase fora da partida. Focado na marcação, Vahid Halilhodzic escalou o time no 4-2-3-1, em que os três meias – Feghouli, Taider e Mahrez – ajudavam na recomposição defensiva. 

Com a boa barreira defensiva montada pelas Raposas do Deserto, a Bélgica precisaria se movimentar para conseguir penetrar e ter chances de finalizar, o que não ocorreu no início. Portanto, o jogo ia da forma planejada pelos argelinos. As coisas ficaram ainda melhores quando Vertoghen fez um pênalti muito infantil em Feghouli. O camisa dez da Argélia bateu e abriu o placar, para fechar ainda mais o time. Com isso, os Diabos Vermelhos começaram a tentar de outras formas, principalmente com o 1° volante Witsel tentando aparecer para finalizar da entrada da área. Apagado no início, Hazard tentou duas boas jogadas no lado esquerdo, mas faltou colaboração dos companheiros. 

No segundo tempo, Wilmots foi consertar os erros na escalação. Sacou Chadli e colocou Mertens, que foi jogar na ponta direita, e De Bruyne foi para o centro. Depois sacou o apagado Lukaku e colocou o jovem Origi. Por fim, aos 20 minutos, Fellaini entrou no lugar de Dembele. Com as substituições, os Diabos Vermelhos melhoraram e a movimentação, que estava ausente anteriormente, começou a aparecer. Mertens foi problema constante para o lado esquerdo argelino. Além disso, De Bruyne pelo centro, com liberdade para aparecer nos flancos, melhorou muito o rendimento. 

O jogador do Wolfsburg participou decisivamente da virada belga. Primeiro, cruzou para Fellaini, de cabeça, empatar. A entrada do jogador do United ajudou demais, pois os Diabos Vermelhos passaram a ter presença constante dentro da área e uma ótima opção no jogo aéreo. A segunda participação de De Bruyne foi com a roubada, que iniciou o contra-ataque. No final, Hazard assistiu e Mertens marcou um belo gol. O 2 a 1 deu mais moral aos belgas, que estiveram próximo de alcançar o terceiro gol, enquanto, os argelinos não assustaram mais. 

A estreia passou muito perto de ser a mais frustrante de todos, por conta do ótimo desempenho defensivo das Raposas do Deserto. Porém, ao perceber os erros na escalação, Wilmots conseguiu arrumar com as mexidas e mostrou que o time belga merece respeito. Os argelinos também provaram que serão adversários duros no grupo H e têm chances de alcançar a segunda fase.

Decepção e um herói 

 Ochoa foi um gigante contra o Brasil, mas isso não significa que os canarinhos jogaram bem (AP Photo/Themba Hadebe)

Fortaleza recebeu uma festa. No mesmo local que o hino a capela se tornou tradição, o Castelão, veio a primeira grande decepção brasileira na Copa do Mundo. Nas arquibancadas, maioria amarela, mas haviam grandes manchas verdes. Sim, os mexicanos invadiram o Nordeste e equilibraram o jogo fora das quatro linhas também. A quase igualdade fora da cancha foi para o campo. 

Em nenhum momento, o Brasil jogou bem no Castelão, porém, no início da partida, deu impressão de que poderia vencer, pois o México não se apresentava muito bem ofensivamente, apesar de marcar bem os canarinhos, no já tradicional 3-1-4-2, porém desta vez, com os alas mais presos, para evitar os ataques brasileiros. Mas a produção ofensiva do Brasil também não foi boa. Novamente, Paulinho não fazia boa partida e não ajudava na saída de bola, para piorar, Oscar não ia bem e, portanto, não conseguia ocupar este vazio. Ramires, no lugar do lesionado Hulk, foi mais um a não funcionar em campo. 

Com as atuações ruins, Neymar recebeu ainda mais importância, sendo procurado a todo o momento. Muitas vezes, exagerou na jogada individual, também por conta de não ter boa parceria. A grande chance do primeiro tempo veio com uma cabeçada do camisa dez, após belo cruzamento de Daniel Alves, Ney acertou o cantinho do gol mexicano, mas Ochoa estava lá para defender. Uma defesaça. El Tri chegava também e, com chutes de fora da área, assustava a baliza defendida por Júlio César. Quando os mexicanos não conseguiam a finalização era porque David Luiz e, principalmente, Thiago Silva e Luiz Gustavo faziam ótimas exibições. 

Sem conseguir jogar bem, Felipão sacou Ramires e colocou Bernard. O Alegria nas Pernas teve bons momentos esporádicos, mas não acrescentou muito ao Brasil. O México chegou a controlar as ações do jogo e, como já citado acima, só não assustou mais JC, pois o sistema defensivo dos Samba Boys se comportava bem. Aos verde e amarelos, faltava mais participação do meio. O 2° volante Paulinho não ajudava ofensivamente e Oscar fazia jogo muito abaixo do que apresentou em São Paulo. 

Na base do abafa, com Marcelo subindo bastante pela esquerda e com Neymar tentando muito em jogadas individuais, o Brasil ficou rodando a área de El Tri. Jô substituiu o apagadíssimo Fred (péssima Copa até aqui) e Willian veio para o lugar de Oscar. Em uma falta na esquerda, o camisa dez cruzou e Thiago Silva apareceu livre para dar um tiro de cabeça. Com muito reflexo, Ochoa brilhou e fez mais uma defesaça. 

Além das duas ótimas defesas citadas no texto, Ochoa fez outras quatro. As seis intervenções igualam Bholi, da Argélia, como maior número de defesas em uma partida. Ao final do jogo, o técnico Miguel Herrera destacou o próprio goleiro: “fez três defesas extraordinárias”. Apesar de Ochoa ter sido o jogador do jogo, o Brasil não foi bem e o 0 a 0 reflete claramente o que foi a partida. Os canarinhos têm grandes chances de alcançarem o primeiro lugar na chave o México deve ter uma decisão contra a Croácia, na próxima rodada.

Reservas decidem

Até aqui, Akinfeev protagonizou a falha da Copa, que, curiosamente, contribuiu para a melhoria da partida em Cuiabá (AP Photo)

Rússia e Coreia do Sul jogaram em ritmo lento. As duas equipes pareciam estar em interessadas em contra-ataque e, como nenhum dos lados se abria, o espaço para executar esta estratégia não existia. Os russos jogavam no tradicional 4-1-4-1, com Glushakov mais preso na volância e Kokorin no ataque. Os coreanos vinham no esquema da moda, o 4-2-3-1, com o ponta-esquerda Son sendo o principal destaque. 

No início, o domínio foi dos asiáticos. Com boa posse de bola e participação interessante de Ki, na distribuição de passes no meio-campo. Apesar de jogar melhor, a Coreia do Sul não criou muito e só chegou em alguns chutes de fora da área. A Rússia, de fato, não assustou, chegava quando Kokorin deixava a área para tentar participar da construção das jogadas. O jogo cresceu no segundo tempo com boas participações dos técnicos. Hong Myung-Bo mudou o centroavante e Lee Keun-Ho, entrou se mexendo muito e buscando participar mais das ações. Em uma das saídas da área, ele construiu a jogada sozinho e finalizou de longe. Ankinfeev, que já havia demonstrado insegurança, protagonizou a primeira grande falha da Copa e engoliu um frangaço. 

Depois de sofrer o 1 a 0, Capello também mexeu. Dzagoev, Denisov e Kerzhakov entraram em campo. A partir daí, o time do leste europeu passou a ter dois atacantes dentro da área e um meia de criação pelo centro, um 4-3-1-2. O recuo sul-coreano também colaborou, mas é certo que, após as mexidas, a Rússia passou a mandar na partida. A jogada do empate teve a marca de dois reservas. Dzagoev caiu pela direita e cruzou rasteiro. Depois de muita confusão, Kerzhakov dominou e fez o 26° gol dele com a camisa russa, se colocando como maior artilheiro da história da seleção, ao lado de Beschastnykh – contando apenas o período de Rússia. 

O empate deixa as duas seleções vivas para a provável disputa da segunda vaga às oitavas de final, pois a primeira deve ser mesmo da Bélgica. Claro, se Coreia ou Rússia conseguirem um empate frente aos favoritos aumentarão as chances de ultrapassar a primeira fase. O jogo também valeu para os treinadores observarem a boa participação de reservas, que, na próxima rodada, poderão ganhar espaço. Não tenho muita dúvida que Capello abrirá mão do 4-1-4-1 e irá escalar Kokorin e Kerzhakov juntos, tendo também Dzagoev entre os onze iniciais. Na Coreia, com a boa participação, Lee Keun-Ho deve ganhar espaço nos titulares, pois jogou mais que Park Chu-Young.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Copa do Mundo – Dia 5

Massacre alemão

 Müller marca três e conduz a Alemanha ao 4 a 0, contra Portugal (FIFA)

A Alemanha está à vontade no Brasil. Antes da bola rolar, as cenas, em Santa Cruz Cabrália, já mostravam que jogar na América do Sul não seria um desafio tão grande, com o imaginado pré-Mundial. A Nationalmannschaft também surpreendeu taticamente, adotou um 4-3-3, ao invés do habitual 4-2-3-1. Já Portugal, abriu mão do sistema de três atacantes e adotou o esquema da moda. 

Apesar de se sentirem em casa na Bahia, os alemães não começaram comandando o jogo. Portugal teve duas chances de abrir o placar. Mas aí veio a influência da arbitragem. Aos 11, Milorad Mazic assinalou pênalti, que não houve em Götze, e Thomas Müller não desperdiçou a chance bateu e marcou. A partir daí, com a movimentação do trio ofensivo, a Alemanha conseguiu chegar mais e passou a controlar melhor as ações. Além deles, os três meias – Lahm, Khedira e Kroos – também fizeram grande exibição. O camisa 18 bateu o para o segundo gol, anotado por Hummels, em um tiro de cabeça. 

Os primeiros 45 minutos reservavam mais protagonismo à Thomas Müller. Aos 37, se envolveu em confusão com Pepe, que resultou na expulsão do luso-brasileiro – segundo a ESPN Brasil, ele não era expulso desde 2011. Com 2 a 0 no placar e um a mais em campo, ficou tudo mais fácil para a Alemanha. Em mais uma jogada de Kroos, camisa 13 aproveitou uma bobeada da defesa dos lusos e fez o terceiro. 

Sem fazer muita força, no segundo tempo, a Alemanha segurou mais a bola e chegou algumas vezes ao gol português. A segurança da Nationalmannschaft ficou clara, pois Neuer teve que fazer apenas quatro defesas e, talvez, apenas uma delas com algum grau de dificuldade. O craque do jogo ainda apareceu, aos 33 minutos, com o terceiro dele na partida e o quarto da Alemanha. Portanto, com 24 anos, Thomas Müller chega ao oitavo gol em copas, tendo disputado apenas sete jogos. É bom Ronaldo parar de secar o Klose e se atentar para o camisa 13 alemão. 

Pelo lado português, não ficou apenas a derrota, pois, para a próxima partida, não contará com o principal zagueiro, Pepe suspenso e deve ficar sem Fábio Coentrão, que saiu lesionado. O ponto positivo foi Cristiano Ronaldo, que ainda com uma proteção no joelho, conseguiu jogar bem. Para se recuperar no dificílimo grupo G, a Seleção das Quinas precisará do máximo de seu craque, que sinalizou que poderá entregar coisas boas sim.

O pior jogo da Copa

O nigeriano Obi Mikel foi eleito o melhor em campo, em uma partida que o prêmio deveria receber outro nome: o menos pior em campo" (FIFA)

A Nigéria controlou a partida com o 4-2-3-1 costumeiro da equipe, porém, apesar total domínio da posse de bola (65%, no primeiro tempo), as Super Águias não criaram muito em jogadas de passes. Pois, na maioria das vezes, a dupla de volante Obi Mikel e Onazi buscava a ligação direta, com lançamentos para os laterais e pontas, que, na maior parte do tempo, jogaram bem adiantados. A seleção iraniana mais interessada em defender jogou com um 4-1-4-1, com Nekounam como 1° volante e Ghoochannejhad como centroavante. Em alguns momentos, os iranianos iam no 4-4-2, quando Dejagah deixava a linha de meia e se juntava à Gucci na frente. 

O estilo de jogo iraniano sobressaiu às ideias nigerianas e o goleiro Haghighi só foi obrigado a fazer uma defesa e as chances mais claras foram do Irã. Nesses momentos, Enyeama provou ser um dos bons camisas um da Copa. Com as dificuldades de criar no primeiro tempo e a posse de bola improdutiva, Keshi tentou mudanças importantes na equipe. Um dos jogadores mais famosos do time, Moses, do Liverpool, foi substituído e não gostou muito. O camisa 11 estava muito mal, mas a entrada de Ameobi não mudou o desempenho nigeriano. 

Quem assustou mais mesmo foi o Irã, com contra-ataques, normalmente puxados por Dejagah. Porém, na hora do passe para a finalização, os asiáticos falhavam. Portanto, se os ajustes nigerianos não deram certo e a seleção de Calos Queiroz priorizou a defesa, o 0 a 0 foi o placar mais justo para, finalmente, uma partida ruim da Copa do Mundo de 2014. Se o Irã não imaginava se classificar à segunda fase, as Super Águias têm este objetivo, mas, com o empate na estreia, as chances caem muito.

Futebol para americanos

 Todos olhando, ninguém parecia acreditar que seria possível um virada àquela altura do jogo. Nem Brooks acreditou (AP Photo/Hassan Ammar)

Depois do pior confronto da Copa, os fãs de futebol foram recompensados com um confronto bem interessante. Durante todo o dia, o assunto em Natal não foi o jogo e, sim, a chuva, que poderia atrapalhar o segundo jogo da Arena das Dunas. Mas os problemas não chegaram às 19h e, sem água, Estados Unidos e Gana se encontraram na capital do Rio Grande do Norte, revivendo duelo de oitavas de final da Copa de 2010. 

Na preparação para o Mundial, Klinsmann pensou em ter um 4-3-1-2, dando liberdade à Bradley e Dempsey. Na prática, o Team USA jogava em um 4-4-1-1, com o camisa oito atuando atrás de Altidore e o jogador do Toronto fazia parte da linha de meias, mas, sempre que podia, se posicionava mais à frente. No lado ganês, o 4-2-3-1 se transformava em 4-4-2, quando Jordan Ayew se juntava à Gyan no centro do ataque. Mas antes que qualquer tática entrasse em ação, Jones descobriu Dempsey, que limpou o defensor, invadiu a área e marcou um golaço – o sexto mais rápido da história das copas. 

Com 1 a 0 contra, Gana começou a controlar o jogo e chegar muito à área defendida por Howard. A principal saída das Estrelas Negras era Atsu, o ponta-direita no sistema. Ao depender muito do jogador do Vitesse, a seleção ganesa ficava relativamente previsível e, por isso, não exigia tanto do goleiro norte-americano. No segundo tempo, Akwasi Appiah mudou um pouco o time e, a partir daí, passou a ter mais variação no jogo. 

A melhora ganesa não resultou em tantas chances claras de gol. Novamente, as melhores coisas de Gana saiam do lado direito do ataque, com o rápido e habilidoso Atsu. Com a entrada de Kevin-Prince Boateng, a linha de três meias atrás de Gyan ficou melhor desenhada e as Estrelas Negras definitivamente se instalaram à frente da área rival. Do outro lado, os Estados Unidos seguiam fazendo uma partida muito boa defensivamente. Jones e Beckerman marcavam demais e não davam espaço. Por isso, as bolas aéreas passaram a fazer parte do repertório ganês para buscar o empate. 

A igualdade veio a oito minutos do final. Gyan fez passe de calcanhar e Ayew entrou livre para marcar o 1 a 1. A marcação norte-americana finalmente tinha sido vazada e, naquele momento do jogo, o empate surgia como resultado mais provável. Mas, neste Mundial, o improvável tem sempre aparecido e não foi diferente em Natal. O zagueiro Brooks, que havia substituído o lesionado Besler, subiu mais alto que a defesa ganesa e recolocou o Team USA na frente. O reserva marcou e não acreditou, se atirou no chão e foi parabenizado para os companheiros. 

A vitória da forma que foi e o massacre sofrido por Portugal na estreia, mostram que os norte-americanos tem chances de alcançarem a segunda fase, no dificílimo grupo G. O confronto frente aos lusos, no dia 22 de junho, na Arena Amazônia. Para Gana, fica o sentimento de tristeza por ter tido um volume tão grande e não ter conseguido vencer: maior posse de bola (59%), 21 finalizações contra 8 e 65 ataques perigosos (definição da FIFA) frente aos 22 dos norte-americanos. Claro, as Estrelas Negras não podem abdicar de Boateng entre os onze iniciais.