sexta-feira, 7 de junho de 2013

Dossiê Fernandinho

Nesta quinta-feira, Fernandinho foi oficializado como novo jogador do City, onde o sucesso ainda maior o espera (mcfc.co.uk)

O meia-central londrinense Fernandinho finalmente deixou o Shakhtar Donetsk para acertar com o Manchester City, por um valor que pode variar de 30 milhões a 40 milhões de euros (Shakhtar informa o preço maior). Depois alguns anos em que o nome do camisa sete do clube ucraniano era ligado aos grandes times da Europa e, principalmente, às equipes da English Premier League, ele finalmente foi negociado.

Antes de falar sobre a contratação, vou deixar um depoimento sobre o caráter do meu conterrâneo. Em 2005, com 13 anos, ainda era um menino tímido, mas que já contava com uma paixão enorme sobre o futebol, independentemente se fosse o meu time que estivesse em campo, eu queria ver o que ia acontecer dentro das quatro linhas. Nisso, em uma das visitas do Atlético Paranaense para enfrentar o Londrina pelo estadual, quis ir ao hotel para pegar autógrafos com os jogadores do Furacão. Um deles seria especial: o à época meia-atacante Fernandinho era o meu grande alvo.

Durante o dia, minha mãe ligou no hotel para confirmar se o jogador com nome de Fernando estaria hospedado ali mesmo. A recepcionista disse não poder passar a informação, mas, com jeitinho, a dona Carla conseguiu a informação. O Fernando, que já era conhecido como Fernandinho, estava na cidade. Portanto, à noite fomos ao hotel e minha mãe foi comigo ao local. Chegando lá, nada do ônibus do Atlético e, além de mim, apenas duas mulheres, com roupas bastante curtas, que depois foram abordadas por um jogador. Com alguns minutos de espera, o elenco rubro-negro apareceu.

Fernandinho foi um dos últimos atletas a desembarcar e, por estar em sua cidade natal, desceu do ônibus acompanhado do pai. Pela minha timidez, minha mãe atuou quase como uma porta-voz minha. Foi ela que abordou o londrinense para pedir o autógrafo para mim, dona Carla comentou com o jogador o fato de eu ser tímido. A resposta de Fernandinho direcionada ao garoto de 13 anos foi: “não pode ser assim, vá em frente e deixe isso de lado”. De fato, anos depois, esta característica deixou de fazer parte da minha personalidade, querendo ou não um dos meus ídolos da época, me passou este ensinamento que faz diferença na minha vida até hoje.

Recentemente conversei com uma pessoa ligada ao Atlético Paranaense e que, nos últimos tempos, foi próxima de Fernandinho e só elogiou o comportamento do atleta dentro e fora de campo. A proximidade com a família, tendo os parentes ao lado sempre que possível com certeza faz parte da formação que recebeu em Londrina e que faz diferença na trajetória futebolística sem grandes polêmicas de Fernandinho. Em entrevista ao site oficial do PSTC, o jogador falou da importância dos familiares: “Sem dúvidas a família na carreira de um atleta é tudo, não há outra palavra para expressar quanto a isso”.

O início em Londrina
 Em 2002, Fernandinho era o capitão e principal jogador do PSTC que foi bicampeão Paranaense Juvenil naquele ano (PSTC.com.br)

Fernando Luiz Roza, o Fernandinho foi mais um fruto do clube londrinense PSTC, que também revelou Kléberson, Jádson, Rafinha e Dagoberto. “Ferna”, apelido que ficou conhecido na Ucrânia, começou no futebol jovem e chegou à primeira equipe aos 14 anos. O primeiro a perceber o talento no londrinense foi um nome bastante conhecido do futebol paranaense, o olheiro Ticão, que teve passagens por PSTC, Cruzeiro e Atlético Paranaense

Conhecido pelo olho clínico, Ticão morreu em janeiro deste ano, duas semanas após receber a visita de Fernandinho. O londrinense jamais esqueceu quem o descobriu e durante as férias fazia questão de reservar um tempo para estar com o olheiro. Ao fazer a reportagem de despedida do personagem histórico do futebol paranaense, a Gazeta do Povo ouvi a tia de “Ferna”, Aparecida Conceição Roza, que falou da importância de Ticão na trajetória futebolística do sobrinho. “Ele foi um dos que ajudaram na ida do Fernando para o Atlético, e mesmo no PSTC deu uma ajuda muito grande. Foi uma pessoa que sempre acompanhou o Fernandinho de perto”, destacou ela. No dia da morte, Fernandinho afirmou no Twitter: “O futebol paranaense perdeu o homem que tinha olhos de águia”.

O londrinense chegou ao PSTC, em uma época que o grande celeiro de jogadores ainda não tinha estrutura que possui hoje. Os primeiros trabalhos de Fernandinho no clube foram nos campos da Universidade Estadual de Londrina e não no Centro de Treinamentos próximo ao aeroporto da cidade. No PSTC, “Ferna” aprendeu valores, disciplina (algo que acredita ser o principal na carreira de um jogador de futebol), venceu títulos e, claro, amadureceu o talento natural.

À época, PSTC mantinha uma parceria com o Atlético Paranaense e, por isso, após o bicampeonato Paranaense Juvenil em 2002 a maior estrela e capitão da equipe seguiu para a capital do estado.

Aparecendo para o Brasil

No Atlético Paranaense, Fernandinho encontrou uma estrutura de nível europeu e um clube campeão brasileiro. Ambiente perfeito para se consolidar como grande promessa do futebol verde e amarelo. Meia-atacante veloz, de passes precisos e com bom chutes de fora da área, o londrinense se deu muito bem no rubro-negro e, em 2003, com 17 anos foi promovido ao time principal do Furacão.

Já figura carimbada nas seleções de base brasileiras, em 2003, foi convocado para disputar o Mundial sub-20 pelo Brasil nos Emirados Árabes Unidos. Reserva na campanha o londrinense entrou na final frente à Espanha de Iniesta e marcou o gol do título, aos 87 minutos de jogo e decretou a conquista verde e amarela com o 1 a 0.

Depois da taça com a seleção, Fernandinho voltou ao Paraná para ser vice-campeão Brasileiro em 2004 e, no ano seguinte, foi destaque do elenco que venceu com tranquilidade o Paranaense. Na mesma temporada, o Atlético Paranaense teve Fernandinho no grupo que foi vice-campeão da Libertadores e, na campanha, eliminou o Cerro Porteño do artilheiro da competição Santiago Salcedo e o Santos de Robinho. Na final, 5 a 1 no placar agregado para o São Paulo e o camisa dez Fernandinho foi titular apenas no jogo de ida, o empate em 1 a 1 no Beira-rio, pois a Arena da Baixada não contava com a capacidade para receber uma final de Libertadores. Na volta, no Morumbi, massacre tricolor e 4 a 0 no placar.

Conquistando a Europa
 Oito milhões de euros, oito anos e 14 títulos, para o Shakhtar Donestk, Fernandinho não saiu caro (AP Photo)

A qualidade demonstrada no Atlético Paranaense rendeu a transferência ao Shakhtar Donetsk por cerca de 8 milhões de euros. A trajetória no rubro-negro foi finalizada com 21 gols marcados em 105 partidas. A dificuldade de se adaptar ao futebol ucraniano foi amenizada pela grande presença de brasileiros no elenco dos “mineiros”.

Nos primeiros anos, os títulos já começaram a vir: Campeonato Ucraniano, em 2006 e 2008; Supercopa da Ucrânia, em 2008 e Copa da Ucrânia, em 2008. No ano em que ganhou tudo (2008), Fernandinho foi eleito o melhor jogador da temporada do futebol do país. Mas a única conquista europeia do clube e grande orgulho do dono do Shakhtar, Rinat Akhmetov (o homem do dinheiro) veio em 2009, com a vitória na Copa da Uefa.

Fernandinho foi titular na campanha que valeu o título, após cair na fase de grupos da Liga dos Campeões, o Shakhtar desembarcou no mata-mata da disputa da Copa da Uefa. A equipe eliminou Tottenham; CSKA, do artilheiro da competição Vágner Love; Olympique de Marseille e o rival local Dynamo de Kiev, na semifinal. Nas quatro fases, o londrinense foi peça chave para os “mineiros” e marcou quatro vezes. Na final, com a camisa sete, Fernandinho foi titular e viu Jádson marcar o segundo gol do Shakhtar, que decretou o título e o 2 a 1 na prorrogação frente ao Werder Bremen, de Diego, Naldo, Pizarro e Özil.

Nesta fase, o camisa sete descobria uma nova colocação em campo, jogando mais atrás, Fernandinho se tornou o que os ingleses chamam de meio-campista box-to-box, que desarma e também aparece no ataque. A nova função dentro das quatro linhas ajudou o londrinense a potencializar as qualidades.  Depois da grande conquista, o Shakhtar ainda venceu outros quatro campeonatos locais (2009-10, 2010-11, 2011-12 e 2012-13), três Copas da Ucrânia (2010-11, 2011-12 e 2012-13) e duas Supercopas (2009-10 e 2011-12).

Mas Fernandinho passou a ser melhor observado pelos grandes clubes europeus por conta dos bons desempenhos da equipe ucraniana na Liga dos Campeões. Isso também atraiu a atenção de Mano Menezes e rendeu convocações à seleção brasileira. Em 2011, o londrinense tinha se tornado titular entre os canarinhos após a Copa América. No amistoso contra Gana foi dele a assistência para Leandro Damião marcar o único gol da partida. Porém, em seu melhor momento em verde e amarelo se lesionou e não voltou a vestir a camisa da seleção.

O londrinense foi um dos principais responsáveis pelas campanhas marcantes do Shakhtar. Em 2012-13, na LC, os “mineiros” passaram pela fase de grupos deixando para trás o atual campeão europeu, Chelsea. Mas, nas oitavas de final, foram eliminados pelo Borussia Dortmund, que acabou vice-campeão da disputa. No Campeonato Ucraniano, Fernandinho foi campeão e melhor jogador do clube na temporada, segundo o amigo Saimon Mryczka, que acompanha de perto o que acontece na Ucrânia. Foram oito anos de Shakhtar, 284 jogos, 53 gols e 14 títulos.

O grande centro

Os seguidos anos de bom futebol e de idolatria da torcida dos “mineiros” resultaram na transferência para um grande centro do esporte. Porém, com situação financeira tranquila, o Shakhtar não queria se desfazer de seu grande destaque. Para que a negociação finalmente desse certo, Fernandinho teve que intervir diretamente no negócio, declarando que era um sonho jogar em um campeonato mais disputado. Além do pedido do jogador, o Manchester City também colaborou e desembolsou uma quantia absurda para ter o futebol do londrinense.

Fernandinho chegou declaração ao site oficial do City que o projeto de grandeza dos citzens o atraiu. “Minha ambição é ganhar todos os títulos, o time aqui é muito forte, e a grandeza deste clube e de sua torcida me atraiu. Profissionalismo é um coisa espetacular. Jogar em um grande clube e em uma grande liga me faz muito feliz. Eu espero poder retribuir tudo que o City está fazendo por mim”, destacou ele.

O londrinense tem tudo que é necessário para jogar bem no Manchester City. Com velocidade, força nos desarmes, passes precisos e boa chegada ao ataque, Fernandinho tem características perfeitas ao dinâmico futebol inglês. Nos citzens tem tudo para formar boa dupla de volantes com Barry, com Yaya Toure, jogando por dentro na linha de três meias, no 4-2-3-1, que deve ser armado pelo próximo treinador da equipe.

A chegada a um grande centro deve reaproximar o box-to-box à seleção brasileira, onde tem concorrência dura de  Paulinho e Hernanes, que hoje são os jogadores da posição no elenco de Luiz Felipe Scolari. Mas a minha aposta é que, nos próximos meses, Fernandinho já comece a receber os chamados de Felipão.  

Sucesso, Fernandinho, aquele garoto de 13 anos não é mais tímido, mas segue sendo seu fã. Arrebenta, Ferna!

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