Com Joan Laporta, Ronaldinho recebendo a camisa dez blaugrana (Cesar
Rangel – AP Photo)
Ronaldinho
Gaúcho chegou ao Barcelona na temporada 2003/2004. O ex-jogador do PSG trocou a
França pela Catalunha para ser o “cara” do novo projeto blaugrana. O homem que o atraiu para lá foi Sandro Rosell, ex-diretor
da Nike no Brasil, que acabara de ser eleito vice-presidente esportivo barcelonista e que também era amigo do gaúcho. À época, o novo comando do Barça, além de ter Sandro, contava com o presidente Joan Laporta; o vice-presidente de finanças, Ferran
Soriano; o vice-presidente de marketing, Marc Ingla; e o diretor esportivo,
Txiki Bergiristain, ex-ídolo do clube.
A
promessa de campanha de Joan Laporta era trazer David Beckham, mas o inglês acabou
saindo do Manchester United para o rival Real Madrid. Porém, o novo presidente blaugrana nunca irá se arrepender de ter
contratado o brasileiro. Os 32,25 milhões de euros pagos ao time da capital
francesa foram o melhor negócio da nova era barcelonista. Um verdadeiro divisor de águas no mundo do Barça.
O desafio da chegada
O
problema para Ronaldinho era o momento de sua chegada. Desde o começo, estava
claro que os primeiros companheiros no Camp Nou não permaneceriam muito tempo na
Catalunha. Além do craque verde e amarelo, o outro grande nome dessa nova fase
seria o técnico. Mais uma vez, um holandês, Frank Rijkaard, ex-volante, com passagens destacadas por Ajax e Milan. O fim da era
Louis Van Gaal estava decretado.
Para
fazer companhia ao novo camisa dez do Barcelona, chegaram Rafael Marquéz,
Quaresma e o goleiro Rüstü. Como todos sabem, os dois últimos tiveram vida
curta no Camp Nou. A “Ronaldinhomania” começava a surgir. Logo na apresentação
do brasileiros aos culés, 20 mil
pessoas foram ao estádio, para darem as boas-vindas ao novo craque do clube.
Ronaldinho chegava em um contexto ruim, pois o Barcelona havia ficado em sexto lugar
em La Liga 02/03 e, o pior, 22 pontos atrás do campeão Real Madrid.
O
primeiro jogo foi realizado longe da Espanha, no estádio Foxboro (Gillette
Stadium), em Boston, nos Estados Unidos. O adversário foi a tradicional e forte
Juventus, que, na época, era a vice-campeã da Liga dos Caampeões. O resultado: 2
a 2 no tempo normal e 6 a 5 na disputa de pênaltis. A dúvida pairava sobre os culés: o craque traia sorte ao novo
clube?
O famoso sinal do Ronaldinho: em Barcelona, foi símbolo de
sucesso por muitos anos (Getty Images)
A
primeira temporada já mostrou que, com o brasileiro no time, o Barcelona
voltaria a ser grande. Mas os blaugranas sofreram
muito durante a campanha: a reestruturação do clube foi contestada, a cabeça de
Rijkaard foi pedida várias vezes e Laporta chegou a ter a vida ameaçada, pelos
setores mais radicais dos culés.
O ponto mais baixo da trajetória, em 2003-04, foi a derrota por 2 a 1 para o Real
Madrid. O revés para o maior rival não vinha há 20 anos, no Camp Nou. Ao final
daquela partida, o Barça estava na 11ª colocação na Liga Espanhola. Ronaldinho
acompanhou o jogo das tribunas, com o rosto desolado, pois só voltaria aos
gramados na outra rodada.
Quando
o camisa dez retornou de lesão, o time foi se acertando e, após três jogos
alternando altos e baixos, conseguiu a sequência de 17 partidas sem derrotas,
que incluíram vitórias importantes frente à Real Madrid, Valencia, Deportivo La
Coruña e Real Sociedad. A série invicta levou o time a segunda colocação em La Liga. Frente
ao rival basco, no dia de seu aniversário, Ronaldinho teve muito o que
comemorar. A vitória por 1 a 0 veio com cobrança de falta genial do brasileiro, aos 43 minutos do segundo tempo. Com isso, a festa de aniversário ocorreu nos
bastidores do Camp Nou. Uma curiosidade mostra como o camisa dez era especial
para o clube: o presidente Joan Laporta desceu para a festividade, tendo uma
aula de como cantar parabéns em português, com Sandro Rosell, para mostrar
carinho ao seu jogador especial.
Pronto,
o time voltava a Liga dos Campeões e teria maior poder de investimento para
montar o plantel da próxima temporada. Além disso, o ano de estreia dos novos
dirigentes já começava a apresentar resultados, reduzindo as dívidas (primeira
vez desde 1997), aumentando o número de sócios e iniciando o processo de
modernização do clube, que culminaria na troca completa do gramado do Camp Nou
ao final de 2003-04.
O
feito de Ronaldinho Gaúcho foi enorme, principalmente, se levarmos em conta os
seus companheiros de equipe. Valdés; Rüstü, que não jogava tanto por não ter
passaporte europeu; Reizeger; Puyol; Márquez; Oleguer; Giovanni van
Bronckhorst; Cocu; Xavi; Gabri; Gerard; Luis Enrique; Davids, que chegou por
empréstimo da Juventus em janeiro; Luis García; Overmars; Quaresma; Saviola e
Kluivert. Bons nomes, mas existem várias coisas para se pontuar. Os holandeses
– exceção feita a Gio – já estavam em fim de carreira e, depois do Barça, a
maioria se transferiria para times menores. Luis Enrique vivia seus últimos
tempos. Valdés, Oleguer, Xavi, Quaresma e Saviola, eram promessas e sabemos que
apenas o goleiro e Xavinho deram certo
no Barcelona. O grau de aproveitamento dos não tão jovens, como Puyol, Gabri,
Gerard e Luis García, também foi baixo: o zagueiro cabeludo deu certo, os outros
logo deixaram o Barça.
Foi
na temporada de estreia no Campeonato Espanhol, que ele protagonizou um de seus
lances mais geniais naquela ponta-esquerda do Camp Nou. Os três chapéus
consecutivos sobre os dois marcadores bascos do Athletic de Bilbao foram um dos
cartões de visitas de Ronaldinho. O camisa dez ressaltou que seria importante
aos blaugranas, terminando a
temporada com 22 gols, sendo 15 em La Liga, o que o colocou como artilheiro do
time no ano e no Campeonato Espanhol.
O novo esquadrão estava formado
Os
investimentos imaginados vieram e, desta forma, Ronaldinho recebeu novos
parceiros. Deco e Giuly, campeão e vice da LC no ano anterior chegaram de Porto
e Monaco, respectivamente. Para a defesa, foram contratados os brasileiros Belletti,
Edmilson e Sylvinho. No ataque, destaques de outros times da Europa: Eto’o, do
Mallorca, e Larsson, do Celtic.
Eto'o e Ronaldinho: conexão perfeita e uma dupla que assombrou a Europa e o Mundo por quatro temporadas (AP Photo)
Um
novo esquadrão em azul-grená estava formado e, com este time, o Barça voltou a
vencer La Liga, após seis anos de jejum. Agora, os blaugranas já tinham um objetivo: voltar ao topo da Europa. O
último e único título da Liga dos Campeões havia sido conquistado com o “Dream
Team”, comandado por Cruyff, em 1991-92. Em campo, estavam Ronald Koeman (autor
do gol único, na prorrogação da final, contra a Sampdoria), Bakero, Guardiola,
Hristo Stoichkov e Michael Laudrup.
Em 2005, Ronaldinho ganhou o prêmio Melhor do Mundo FIFA, Eto'o ficou em terceiro e Messi foi coroado Golden Boy (Reuters)
Novamente, meta traçada e alcançada, com um bônus: o bi Espanhol. Nessas conquistas, um
nome teve destaque maior que os outros, Ronaldinho, que foi o craque do título
da LC 2005-06 e artilheiro do Barça na campanha, com sete gols. Nessas
temporadas abençoadas, o camisa dez blaugrana
foi condecorado como Melhor do Mundo FIFA 2004 e 2005 e como Bola de Ouro da
revista France Football 2005 – diversos outros prêmios menores também foram
conquistados.
Atuações memoráveis
O biquinho maravilhoso, contra o Chelsea, em Stanford Bridge (FourFourTwo)
Além dos
prêmios individuais, Ronaldinho colecionou atuações memoráveis. Contra o
Chelsea, pelas oitavas de final da LC 2004-05, em Stamford Bridge, ele marcou os
dois gols blaugranas naquela noite. Um deles de forma mágica: dançando na
frente dos marcadores e, com um biquinho, acertando o ângulo da meta. O belo
gol anotado contra o Milan, na primeira fase do mesmo ano, coroou outra exibição
de gala. Naquele momento, o Gaúcho sabia exatamente o que representava para o
Barcelona e a que patamar havia chegado. Após o elástico, no qual deixou para
trás Nesta e Gattuso de uma vez só e chute de canhota – sua perna “ruim” –, saiu
falando para quem quisesse ver e ouvir, “eu sou foda”. E de fato era.
Ronaldinho e a exibição de gala frente ao Real Madrid no Real Madrid (Miguel Ruiz/FCB)
Para
finalizar, a melhor atuação individual que pude presenciar no futebol. O 0 a 3, no Real Madrid, em pleno Santiago Bernabéu, no dia 19 de novembro de 2005. Ronaldinho
Gaúcho marcou dois gols muito parecidos no segundo tempo: partindo da esquerda,
anotando sem tomar conhecimento de Sergio Ramos, Helguera, Roberto Carlos
e Casillas. A diferença entre seus gols foi que, em um cortou para a direita,
e, no outro, para a esquerda, sendo que, no segundo, Roberto Carlos não ficou
para trás. A atuação mágica na capital espanhola lhe rendeu honraria só
repetida duas vezes na história. Ser aplaudido de pé pelos torcedores merengues
foi fato raro e apenas Maradona e Messi conseguiram o feito em “território inimigo”.
Despedida com altos e baixos
Mesmo sendo vaiado nos seus últimos tempos de
Espanha, chamado de gordo, o brilho não se resumiu a três ótimas temporadas.
Ronaldinho, de vez em quando, aprontava das suas: um gol de bicicleta,
cobranças de faltas milimétricas e assistências geniais foram os momentos finais
de brilho do camisa dez. Na área de lendas do site do Barcelona, Ronaldinho é
lembrado e existem dois vídeos de gols do brasileiro com a camisa blaugrana, que merecem ser conferidos.
Acessem o primeiro aqui
e o segundo aqui.
Foi de Ronaldinho o passe para o primeiro gol profissional de Messi com a camisa do Barcelona (Getty Images)
Ronaldinho Gaúcho foi muito importante para o
Barcelona, tanto dentro ,quanto fora de campo. Hoje, se o Barça chegou onde está, foi muito por conta do craque brasileiro. Se Laporta tivesse contratado Beckham, a
história talvez não tivesse o sucesso que acabou aparecendo. Não nego a
importância de Messi, mas a base do time e a estrutura do clube vem lá de trás,
quando era o brasileiro quem dava as cartas no Barcelona.
Visca el Barça, Visca Ronaldinho, Visca el Fútbol!
Protagonismo na conquista da Liga dos Campeões, em 2005-06 (Getty Images)
Números de Ronaldinho no Barcelona
Temporadas no Clube: 2003-2008
Jogos: 250
Gols: 110 (94 em partidas
oficiais)
Assistências: 81 em jogos
oficiais.
Títulos: 2 Ligas (2004-05 e
2005-06), Liga dos Campeões (2005/06) e 2 Supercopas da Espanha (2005-06 e
2006-07)