segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A camisa nove

Suárez é, hoje, o melhor centroavante no mundo, mas são vários camisas nove jogando em alto nível no futebol mundial (Andrew Powell/Getty Images)
 
Há, praticamente, dois anos escrevi um post sobre centroavantes, citando exemplos de professores na função. Mas, desta vez, a ideia é diferente, falarei da situação dos camisas noves no futebol contemporâneo. Apesar das críticas constantes a jogadores da posição e de mais técnicos utilizarem a opção do falso nove, hoje são diversos centroavantes atuando em alto nível no mundo e nos mais diferentes estilos de jogo. 

Minha percepção é que o nove não morrerá e, como diz o amigo jornalista, Thiago Rabelo: “quem tem centroavante é feliz”. Porém, hoje, a função mudou. Claro, ainda existem aqueles atacantes que vivem dentro da área e só aparecem em um toque, o chute do gol, mas, no futebol de alto nível, este tipo de jogador está cada vez mais raro. Os centroavantes de grande valor já sabem disso e se adaptaram ao novo cenário do futebol mundial. 

O nove atual tem que ter bom poder de finalização e, de preferência, saber chutar de fora da área – e claro com as duas pernas. Porém, esta já era uma característica básica anteriormente, o que se tornou mais importante é aliar isto à visão de jogo e à qualidade no passe. O centroavante, muitas vezes, deixa a área e vê os pontas e laterais invadirem o “seu espaço” para realizarem a finalização. Portanto, o passe preciso pode resultar em uma assistência e até definir um jogo. Em uma passada rápida na lista de assistentes das grandes ligas europeias, alguns camisas nove figuram entre os destaques, muito por conta deste movimento – em La Liga, Bacca e Benzema; na Ligue 1, Ibrahimovic; na Premier League, Giroud; e, na Serie A, Higuaín, Luca Toni e Palacio são destaques no quesito. 

Outro ponto que destaco sempre no futebol dos centroavantes atuais é a capacidade para driblar, nada que peça muito refinamento, mas cortes capazes de limpar espaço para a finalização. Pois, com a marcação mais apertada, um passe que forneça total liberdade para o finalizador é raro, portanto, o drible pode garantir a oportunidade do chute e, consequentemente, do gol. Além disso, o aspecto físico deve ser desenvolvido, porque isto pode ser a diferença entre permanecer em pé e conseguir o arremate ou desperdiçar uma oportunidade clara, após uma trombada do adversário. 

Portanto, os centroavantes deixaram de ser apenas os homens do gol e participam de todo o jogo ofensivo das equipes: com passes, abrindo espaços e fazendo o pivô. Outro ponto que não pode faltar nos noves de destaque no futebol atual é a presença na defesa, pois são muitos times que jogam com marcação pressão. Neste sistema, a participação do atacante neste movimento da saída adversária, constantemente resulta em gols, por isso, a aplicação defensiva também é importante.  

Novamente, faltam brasileiros 

 Fred foi amado pelos companheiros na reta final da Copa das Confederações. Brasileiros esperam que ele repita as atuações no Mundial (Ag. Reuters)

Neste contexto, os brasileiros estão ausentes dos dez principais centroavantes do futebol mundial, apesar de nem todos terem porte de centroavante e nem sempre jogarem centralizados. A minha lista dos dez contaria com: Agüero, Cavani, Diego Costa, Falcao García, Ibrahimovic, Lewandowski, Lukaku, Negredo, Suárez e Van Persie. Dentre eles, Agüero, Falcao García, Ibrahimovic, Suárez e Van Persie estão acima dos demais, em termos de potencial. Porém, nem todos estão nos melhores momentos das carreiras e, mesmo assim, conseguem ficar entre os principais nomes da posição. 

Desde a época do post citado no início deste texto, faltavam brasileiros entre os principais destaques da posição e, quase dois anos depois, o panorama não mudou. Nas principais ligas da Europa e em alguns mercados menores, os brasileiros não são destaques absolutos na artilharia. Mas jogadores nascidos aqui conseguiram balançar as redes de forma relevante: na Bundesliga, Raffael (9 g) e Roberto Firmino (8 g); na Serie A, Eder (9 g); na Eredivisie, Lucas Piazon (11 g); e, na Premier League Russa, Hulk (9 g). 

Nenhum deles, um claro centroavante, por isso, as melhores alternativas para a camisa nove verde e amarela estão no Brasil. Uma delas está longe de ser ruim, é o ótimo Fred, porém, o centroavante do Fluminense não é tão confiável, pois se lesiona constantemente e nem sempre repete a atuação intensa que teve contra a Espanha, na final da Copa das Confederações. O jogador daquela partida estaria entre os 15 melhores homens de área do mundo, mas afetado por uma lesão na coxa, Fred não atua desde setembro de 2013. Portanto, o melhor nove brasileiro é um grande ponto de interrogação. 

As outras opções para a seleção acabam sendo jogadores que não são considerados de nível tão alto e que, ainda por cima, não vivem o melhor momento da trajetória futebolística. Os últimos camisas nove convocados para a reserva de Fred foram Alexandre Pato, Leandro Damião e Jô. O artilheiro da Libertadores pelo Galo se firmou na vaga, mas recentemente não vem convencendo e parece não ter o porte da seleção brasileira. Pato e Damião também, pois iniciaram as carreiras mostrando força para assumirem a nove canarinha e, hoje, estão muito longe daquele nível que prometeram. 

Sem nenhum dos três jogando bem, Felipão ensaiou nos últimos amistosos a alternativa do falso nove, que Mano Menezes vinha utilizando na reta final do trabalho. Porém, ao contrário do antecessor, o técnico pentacampeão mundial não escolheu Neymar para exercer a função. A principal opção para comandar o ataque com mais mobilidade foi Robinho, que está longe dos melhores momentos na Europa, mas conseguiu render bem pelos samba boys

Portanto, apesar do mundo ter, a cada dia mais, centroavantes – de diferentes estilos – atuando em alto nível, a ausência de duas ou três opções brasileiras – além de Fred – fazem a alternativa do falso nove ser quase obrigatória para a seleção. Parece, cada vez mais óbvio que Robinho será o reserva do centroavante do Brasil na Copa de 2014. Felipão não terá um nove clássico no banco durante o Mundial, não por opção dele, mas por falta de brasileiros que atuam por ali e com nível para estarem na maior competição entre seleções do planeta.

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