quinta-feira, 26 de junho de 2014

Copa do Mundo – Dia 16

Intensidade e altura

Neymar é um dos artilheiros da Copa, com quatro gols, e vai liderando o Brasil (Matthew Lewis/Getty Images)

Escrever mais sobre a melhor exibição do Brasil, na Copa do Mundo, não é necessário, por isso, ousarei prever o próximo passo da seleção. O confronto contra o Chile promete ser muito interessante. Apesar deste Mundial ser tão bom exatamente por ser imprevisível, não há como imaginar uma partida fácil para nenhuma das duas equipes e, sim, um duelo aberto recheado de aspectos muito interessantes. 

O Chile se caracterizou nesta Copa por estar conseguindo se adaptar ao estilo de jogo, que o adversário lhe propõe. Na estreia, a adversária foi a Austrália, uma equipe mais defensiva. Portanto, Sampaoli jogou no 4-3-1-2, com Valdívia muitas vezes se unindo à dupla de atacantes, composta pelos móveis Alexis Sánchez e Eduardo Vargas. Além disso, o trio de meias tem Aránguiz e Vidal buscando mais o ataque, enquanto, Marcelo Diáz (o segundo jogador que mais correu no Mundial, 36,7 km) faz o balanço defensivo, quase funcionando como terceiro zagueiro. A formação do trio atrás dá liberdade aos dois laterais, Isla à direita e Mena à esquerda. 

Ter estreado no Mundial com um esquema, que não é o habitual da Roja, mostra como Sampaoli tem o grupo na mão. Para bater a Espanha e também contra a Holanda, o sistema com três zagueiros de início voltou a imperar – deve ser a escolha para enfrentar o Brasil. O 3-1-4-2 faz parte do repertório chileno há muito tempo, pois Marcelo Bielsa usava o esquema como variação do seu preferido 3-3-1-3. Além do trio atrás, o Chile de Sampaoli tem outros elementos clássicos do jogo de El Loco: a pressão na saída de bola adversária, troca de passes (top cinco no ranking de passes completados) e estilo ofensivo.

 Chile - Football tactics and formations

Não por acaso, a primeira característica que citei foi a pressão na saída de bola. Pois esta alternativa também é uma das principais da equipe brasileira e, frente aos camaroneses, foi responsável por dois gols verde e amarelos. Portanto, devemos ver um duelo insano na saída de bola. Até aqui, quem está vencendo, é o Chile, que, com os laterais e boa participação dos meias, tem conseguido sucesso na proposição de jogo. Os Samba Boys sofrem neste quesito e, contra a Roja, devem sofrer ainda mais, afinal, o adversário tem a marcação pressão como ponto forte.

O problema brasileiro na saída de bola vem desde o primeiro jogo da Copa e até dos amistosos. As fracas atuações de Paulinho e dos laterais, que são fundamentais para a construção dos ataques desde o campo defensivo, são os pontos centrais para o entendimento do problema crônico verde e amarelo. As saídas têm sido realizadas ou em lançamentos dos zagueiros e Luiz Gustavo ou em contribuições inconstantes de Neymar (o craque tem aparecido melhor no ataque), Oscar e Hulk, o que é pouco. 

 Fernandinho entrou contra Camarões e mostrou um nível de futebol altissímo, o que deverá fazê-lo titular contra o Chile (Buda Mendes/Getty Images)

Olhando o perfil do rival e a ótima participação de Fernandinho, contra Camarões, a mudança do 2° volante se mostra como fundamental e alternativa mais clara para enfrentar os chilenos. No meio tempo em que ficou em campo, o camisa cinco se mostrou à vontade para participar desta saída de bola. Talvez, com a entrada dele, não só a saída pelo centro melhore e, pelos lados, também evolua, com melhor inclusão de Daniel Alves e Marcelo nesta dinâmica. 

A falta de estatura chilena, compensada por muita velocidade, não traz orgulho e causa preocupação, afinal é a menor altura média da Copa (1,76m). Antes do Mundial, um dos três zagueiros, Jara, de 1,78m, explicou a questão: “Esse assunto já é velho, já foi falado demais. Não temos defensores tão altos como antes, é verdade. Mas lidamos bem com isto”. Este é um caminho que pode ser explorado pelos brasileiros, pois os Samba Boys têm jogadores altos e uma média bem superior aos chilenos (1,81m). 

Como dito por Jara, a falta de altura é um problema maior na defesa. Afinal, além do jogador de 1,78m estão Silva, de 1,78m e Medel, 1,72m. Outro nome que, por muitas vezes, compõe a defesa é o 1° volante Marcelo Diáz, de 1,67m. Os verde e amarelos deverão ter dentro da área o centroavante Fred, que tem 1,85m, proporcionando uma clara vantagem para o jogo aéreo do nove brasileiro, que tem os cabeceios como uma das armas para marcar. Nos escanteios e faltas laterais, normalmente, bem cobrados por Neymar, os canarinhos devem ter Luiz Gustavo (1,87m), David Luiz (1,89m) e Thiago Silva (1,83m) dentro da área. Mesmo que a defesa roja receba apoio de jogadores mais ofensivos, entre os onze iniciais, apenas Vidal alcança a marca do 1,80m, portanto, a superioridade de altura seguiria. 

Portanto, explorar a bola alta pode ser uma saída bem interessante para o Brasil. Mas não há como fazer dela a única alternativa, pois, nos últimos jogos, como já dito acima, a seleção sofreu bastante com a falta de saída de bola pelo chão. Por isso, mesmo jogando contra La Roja, que dificultará o início das jogadas, os Samba Boys devem alternar o jogo aéreo e longo com os passes curtos e rasteiros. Para isso ocorrer, a entrada de Fernandinho como titular parece quase obrigatória, pois, em 45 minutos, contra Camarões, o londrinense trouxe àquilo que é cobrado. Porém, além disso, Oscar terá que participar mais dessa saída de bola e contar com apoio dos laterais neste trabalho, conseguindo dar a alternância ao jogo verde e amarelo, fundamental para a vitória contra a boa seleção chilena.

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