sábado, 21 de junho de 2014

Copa do Mundo – Dia 9



Finalmente, a experiência in loco e o sonho está realizado

 A Arena da Baixada estava cheia e a maioria vestia o amarelo, do Brasil ou do Equador (Manoella Nolasco)

Chegou a o dia que tive uma das grandes histórias da minha vida. Fui à uma Copa do Mundo e, para completar no meu país. Antes da partida, poucos esperavam algo de Equador e Honduras, mas, com a vitória francesa categórica frente aos suíços, as equipes se permitiram sonhar com a classificação. Por isso, vimos um jogo bastante aberto.

Desde a chegada à Curitiba, no dia 19, fiquei impressionado com a organização do aeroporto e os enfeites, que preenchiam o local. Tudo decorado em verde e amarelo e equatorianos e hondurenhos também estavam presentes. No local, além da decoração especial, havia uma área chamada “Fun Zone”, onde ficavam videogames, televisão com os jogos, voluntários da FIFA para orientação e espaço para descanso, naquele momento, ocupado por estrangeiros.

Mas chegar à capital não acabava com a minha ansiedade, eu queria estar lá dentro e queria reencontrar a Arena da Baixa, que já havia achado espetacular em 2009. Antes de partir, conheci Cézar, que era quase família e estava hospedado na casa de um dos meus primos de Curitiba. Fomos juntos e encontramos o Gui Lopes, sim, o companheiro de Trifon Ivanov, camisa dez do Bonde dos Chilenos, e a sua futura esposa, a Tati. Conversamos um pouco e, pouco antes das 18h, partimos para o Estádio, isso depois de já termos passado por dois cordões policiais, onde fomos revistados e apresentamos nossos ingressos.

Na rua da Arena, me despedi dos amigos, meu caminho era outro – um tio norte-americano e uma prima já partiram para o Estádio separados. Fui sozinho para o portão cinco, que ficava longe. No caminho só alegria e a maioria vestia o amarelo do Equador, a minha escolha para a partida. Depois de pegar uma fila de uns 15/20 minutos, que pareceram uma eternidade, cheguei ao Estádio e, em mais uns cinco minutos, entrei. Primeira coisa, visitei o banheiro padrão FIFA e fui para o meu lugar.

Ao encontrar meu bloco, um fiscal pegou o ingresso comigo e me indicou o meu assento. Fiquei por ali. Logo meu vizinho, também sozinho, sentou e começamos a conversar. Ali ocorreu algo que nunca imaginei, o meu novo amigo era E-GÍ-PI-CIO. O português dele fluente tinha explicação, morava há oito anos em Curitiba. Depois, ele trocou de lugar com um mexicano, Alfonso Cruz, mais um amigo para mim. Com ele, falei muito sobre futebol. Torcedor do Puebla, estava muito animado com as chances dos mexicanos e, principalmente, para o próximo jogo. No dia 23 de junho, ele irá à Arena Pernambuco para aquilo que chamei de a “primeira final” de El Tri, contra a Croácia. Animado, Alfonso falava: “seremos locales em Recife”.

Nenhuma outra coisa poderia me proporcionar isso. Portanto, só agradeço ao Mundial e fico feliz, pois semana que vem tem mais.

O jogo

 Enner agradece aos céus: a Arena viu mais uma grande exibição do camisa 13 equatoriano (Julian Finney/Getty Images)

Maioria em Curitiba, os equatorianos deram show. Entoando várias vezes: “Somos ecuatorianos y esta noche tenemos que ganar”. Apesar da força das arquibancadas e a importância que o jogo tinha ganhado, o Equador não foi absoluto, Honduras conseguiu equilibrar as ações. No lado sul-americano, aquele 4-4-1-1, com Enner Valencia circulando mais e tendo Caicedo como nove fixo. Em Honduras, o 4-4-2 era escolha e o ataque tinha os grandalhões Costly e Bengston, pressionando a dupla de zaga da Tri.

Desta forma, o jogo foi muito aberto. Às vezes, falha individuais colaboravam, mas Curitiba viu uma grande partida. Novamente, Enner era o melhor da Tri e era quem aparecia nos melhores momentos. Inclusive, perdeu gol incrível. Além dele, os equatorianos tinham muito de Noboa, que controlava o centro do campo (sete roubadas de bola), e Paredes e Ayoví, laterais que avançavam muito.

Honduras tinha a alternativa da bola longa, que, normalmente, buscava Carlos Costly. Além disso, Espinoza, meia-esquerda de La H, tentava muito e colaborava ofensiva e defensivamente. O gol saiu em uma falha equatoriana e Costly recebeu livre para marcar de canhota. O 1 a 0 quase virou o estádio para os hondurenhos, mas o empate, logo depois, manteve o domínio da Tri. Em uma das subidas, Paredes arrematou do bico da área e, no outro lado, a bola sobrou para Enner marcar o 1 a 1.

A igualdade animou os equatorianos. Reinaldo Rueda chegou a mudar de lado os pontas, Antonio Valencia (jogador do United faz Mundial muito ruim) foi para a esquerda e Montero para a direita, pois ambos não rendiam nos flancos habituais. A partir da troca, o Equador cresceu e a torcida foi junto. Com este espírito, La Tri passou a dominar ações, mas sempre sofrendo em contra-ataques e nas bolas que procuravam Costly, que dominava a defesa equatoriana.

O jogo seguia no mesmo ritmo e, apesar do domínio, La Tri não conseguia as melhores chances. Honduras fazendo o jogo que havia se proposto: com menos posse de bola (no final, igualou o número) e menos ataques, era perigosa (teve mais chutes no alvo, inclusive) e causava preocupação nos equatorianos, que estavam sentados perto do meu lugar. Mas o gol da vitória foi marcado por Enner. Assim como no primeiro jogo, ele subiu mais alto que a defesa adversária e, de cabeça, fez o 2 a 1. Terceiro gol do Equador no Mundial e terceiro do jogador do Pachuca.

No mesmo esquema dos 90 minutos, Honduras chegou assustar os sul-americanos. Domínguez teve que aparecer com defesas importantes, para garantir o placar favorável. Após o gol da vitória, em minha frente, um equatoriano abaixou a cabeça e, quando levantou, lacrimejava. O “si, se puede”, que eles tanto gritaram e, talvez, nem acreditassem muito, ocorreu. Equador chega vivo à última rodada e, dependendo do resultado de Suíça e Honduras, poderá se classificar à segunda fase com um empate.

O ponto negativo

Logo depois que o mexicano sentou ao meu lado, uma voluntária da FIFA acionou um dos Stewards para checar se o meu novo amigo tinha ingresso. Não, isso não é coisa de esquerdista, que vê preconceito em tudo. Com o rosto típico dos latinos, Alfonso, após já ter apresentado o ingresso em, pelo menos, quatro barreiras, passou pelo constrangimento de ter, mais uma vez, provar tinha sido comprado a entrada para o jogo.

Não vou me alongar, mas, após o caso, apenas falei para Alfonso: “preconceito, este é um dos grandes problemas do Brasil, tem muita gente que tem dificuldade para conviver com negros e pardos. Te peço desculpas pelo país”. O mexicano, praticamente, ignorou o caso e continuamos conversando. Portanto, a Copa do Mundo é um claro retrato do Brasil, pois o povo é impressionante, a miscigenação é potencializada. Porém, infelizmente, o preconceito ainda está aí.

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