sexta-feira, 28 de maio de 2010

Glória infinita para a Inter

Três títulos em uma temporada isso que 09/10 reservou para os adeptos nerazzurri. Porém algo especial aconteceu, além das conquistas caseiras de Coppa Italia e Serie A (Quinta consecutiva), a Inter após 45 anos voltou a ser a equipe número um na Europa.
 O abraço dos comandantes, José Mourinho cumpriu a sua missão - Inter.it

A última conquista da UEFA Champions League havia sido em 1963/64 e 64/65. Time que contava com o mago Helenio Herrera como treinador, que na conquista atual foi lembrado por José Mourinho, quando o treinador luso reviveu o esquema tático ultradefensivo: catenaccio.

Porém a maior semelhança, entre a “Grande Inter” e o time que conquistou a primeira tríplice coroa da história do futebol italiano, está na sala da presidência. No bicampeonato, Angelo Moratti era o presidente. O sobrenome não é mera coencidência, Massimo Moratti - atual presidente e dono da Interazionale desde 1995 – é o quarto filho do comandante da “Grande Inter”.

A difícil classificação

Uma campanha que não começou bem na Europa e a temporada já se desenhava para dominar nacionalmente sendo apenas um coadjuvante em ambito europeu. A estreia no Giuseppe Meazza colocou os nerazzurri frente ao esquadrão blaugrana, que havia vencido todas as competições disputadas no ano anterior e tinha Messi – O melhor do mundo.

Uma Inter covarde em casa, totalmente preocupada com a defesa. O jogo também marcou o reencontro de Ibrahimovic e Eto’o com suas antigas equipes. A equipe nerazzurra arrancou um 0x0, que mantinha os indícios de uma temporada sofrivél. Na Rússia contra o Rubin Kazan um 1x1, voltando para a Itália enfrentaria o Dynamo de Kiev. Depois de estar perdendo por 2x0, a equipe conseguiu o empate com gols de Samuel e Stankovic.

Com esses resultados a Internazionale confirmava os indícios, não conseguiria voltar a ser europeia. Porém a equipe resurgiu em Kiev, mesmo começando perdendo com um gol do antigo rival Sevchenko (Ex-jogador rossonero). A virada da Inter veio com gols de Milito aos 40 minutos da segunda etapa e o gol mais chorado da equipe na competiçao. Depois de muita confusão, Sneijder de carrinho colocou a bola na rede aos 44 minutos.

O jogo de volta contra o Barça foi um desastre, os nerazzurri não conseguiram segurar a força blaugrana. Resultado: 2x0. Na última rodada a Inter teria em casa o confronto direto pela segunda vaga do grupo com o Rubin Kazan. Foi lá que a nova estrela da Beneamata ocupou o posto de protagonista. Balotelli surgiu com uma assistência de letra para Eto’o abrir o placar e depois fez o segundo, um golaço em uma cobrança de falta de longa distância.

Vencer ou voltar para casa

Agora classificada a Inter teria um grande desafio, mais uma vez um clube inglês nas oitavas. O Chelsea seria o adversário da vez, nas duas temporadas anteriores Liverpool em 2007/08 e Manchester United em 2008/09 eliminaram o clube italiano nessa fase da competição.
 A festa de Sneijder e Javier Zanetti com a comissão técnica em Stamford Bridge - AFP

Porém dessa vez a história foi diferente, gols de Milito e Cambiasso com Kalou descotnando colocaram os nerazzurri na frente dos blues. Mas ainda haveria o jogo em Stamford Bridge, a vantagem interista não era tão grande e poderia ser facilmente revertida pelo líder da Premier League.

Mas aquilo que Lúcio e Maicon chamaram de “a grande virada da Inter”, aconteceu. José Mourinho armou a equipe em um 4-3-3 clássico, com Pandev e Eto’o nas pontas e Milito como centroavante. A equipe nerazzurra não passou grandes sustos e Sneijder foi mágico, deu dois ótimos passes para cada atacante da Inter. Foi “El León indomable” o homem a decidir a partida. 0 X 1 com gol de Eto’o e vaga assegurada.

Um desafio um pouco mais fácil se desenhava nas quartas. A zebra da competição, o CSKA. No primeiro jogo em Milão a Inter dominou a partida e deu a impressão que venceria a hora em que quisesse. E mais uma vez o gol só foi aparecer com um passe de seu camisa dez e com finalização de Diego Milito.

Em Moscou seguiu o mesmo ritmo, mas o artilhero nerazzurro da vez foi Wesley Sneijder em cobrança de falta. 2 X 0 no placar agregado, mas uma notícia não muito boa para a torcida interista. A equipe teria que encarrar o Barcelona, a melhor equipe do mundo e que tinha em seu elenco o melhor jogador do mundo, Lionel Messi e vinha fazendo ótima campanha na competição.

A Grande batalha
Maicon anota um gol muito importante para a Inter - AFP

A “grande virada” já havia sido realizada. E no Giuseppe Meazza a história foi outra, o Barça até abriu o placar com jogada de Maxwell que Pedro completou. O 1 X 0 para os visitantes era um resultado ilusório. O empate surgiu em um passe de Eto’o pela direita, Milito rolou e Sneijder marcou.
A virada apareceu em um contra-ataque da Beneamata, Thiago Motta passou para Diego Milito, que esperou a ultrapassagem de Maicon para tocar pro lateral verde e amarelo marcar. O gol que deu a grande vantagem para a Inter, começou na direita e Sneijder desviou de cabeça para “El Principe”, em impedimento marcar o 3 X 1.
Eto'o comemora a classificação na sua antiga casa - Ag. Reuters

No Camp Nou a partida prometia ser difícil e com a expulsão de Thiago Motta a Inter teve que mudar seu estilo de jogo. Se posicionou apenas na defesa, relembrando o esquema ultradefensivo Catenaccio. Esquema tático criado e utilizado por Helenio Herrera no bicampeonato mundial da Internazionale em 1964 e 1965 que priorizava a defesa e o contra-ataque. Mas na Catalunha Mourinho não seguiu os ensinamentos do argentino, fez de seu jeito, abidicando totalmente do ataque.

Mourinho adotando essa postura mostrou o porque de ser “The Special One”. A ideia que colocou em campo deu certo, o Barcelona conseguiu furar o bloqueio só por duas vezes. Na primeira vez Piqué recebeu passe de Xavi, em ligeiro impedimento. O zagueiro se comportou como um atacante, e cortou Cordoba e Júlio César em um só drible e bateu para o gol livre.

A segunda vez, Piqué chutou e Samuel afastou para a bola explodir na mão de Y. Touré e se oferecer para Bojan marcar o gol. Tento posteriormente anulado, pelo toque de mão, porém não julguei a atitude como correta, pois a bola bateu na mão e foi totalmente involuntário.
 Os nerazzurri foram recebidos por 5 mil pessoas no Aeoroporto Malpensa, Mourinho foi o mais assediado - Ag. Reuters

Vencer para fazer história

Muita coisa estava envolvida na final disputada no Santiago bernabéu. Os dois times chegavam a decisão como aspirantes a triplíce cora. Com o objetivo de repetir o Celtic de 1966/67, PSV Eindhoven de 1987/88, Manchester United 1998/89 e o Barcelona da temporada anterior.

A atmosfera era impressionante, vários ex-jogadores das duas equipes estavam no Santiago Bernabéu. As torcidas deram um show, a torcida do Bayern fez um mosaico com as cores o clube. Os nerazzurri fizeram um espetáculo maior ainda, utilizando-se de faixas e um mosaico também composto por bandeiras, que misturava o símbolo da Champions, com o da Inter e ainda nos lados, a bandeira italiana. E depois ainda chegaram 15 mil bandeiras para completar a festa.

Com a bola rolando, a equipe nerazzurra jogou como sempre. Deixou o Bayern ficar com a bola, mas sem sofrer uma pressão muito grande. Robben, o craque bávaro na competição pouco produziu na final de sábado. Mourinho mais uma vez teve méritos nisso, Chivu e Zanetti foram escalados pelo lado esquerdo nerazzurro – onde o dez do Bayern costuma atuar. Além disso, Cambiasso também voltava seus olhos para o craque holandês.

Para marcar seus dois tentos na partida, a Inter apostou em uma de suas principais caracteristícas – os contra-ataques. O primeiro surgiu em um lançamento do goleiro Júlio César, que Milito escorrou para Sneijder. O holandês esperou o momento certo para passar a bola ao companheiro, “El Principe” bateu por cima de Butt. Na comemoração o argentino já mostrava emoção, que posteriormente seria aumentada.
Diego Milito comemora o gol na final da Champions - Inter.it

O segundo estouro da torcida nerazzurra veio com Sneijder dominando uma bola e rapidamente passando para Eto’o. O camaronês conduziu a bola e logo a lançou para Diego Milito. O camisa 22 da Inter tinha a marcação de Van Buyten, porém ele não tomou conhecimento do belga. Após entortar o marcador, ele bateu para o gol e marcou. Na comemoração as lágrimas escorreram pelo seu rosto, o título estava cada vez mais perto.

Depois disso a equipe italiana só teve o trabalho de segurar as últimas tentativas do Bayern, que mesmo com mais atacantes não conseguiu penetrar no “Muro de Glórias” (Apelido dado ao sistema defensivo da Inter após o jogo contra o barça).

Glória infinita

O apito final de Howard Webb foi o último passo para a glória infinita. A alegria foi imensa de jogadores, comissão técnica e dos torcedores presentes no Bernabéu, uns choravam, já outros corriam sem destino, pulavam e festejavam com a torcida. Isso porque, foram 45 anos, pelo menos duas gerações, que viram a Inter sair do foco na Itália.

Pós-década de 60, os nerazzurri viram o seu maior rival ganhar cinco Champions, oito Campeonatos Italianos, enquanto a Inter conseguiu apenas 3 Copas UEFA e dois italianos. Com o “Calciocaos” que enfraqueceu Milan e Juventus parecia que a equipe de Appiano Gentile voltaria a dominar, porém isso só aconteceu na Itália. Fora dela a Inter ainda via o Milan tendo mais sucesso, mas a temporada 2009/10 mudou isso.

Antes de serem coroados como melhores da Europa, os jogadores interistas fizeram algo maravilhoso. Montaram um corredor, composto por eles mesmos, quandos os bávaros passaram por lá foram aplaudidos e cumprimentados. Uma das cenas mais emocionantes da decisão.
Javier Zanetti se emociona com o título - Inter.it

A consagração nerazzurra logo veio, um a um foram receber as merecidas medalhas. A fila foi puxada por Massimo Moratti, o importantíssimo presidente. O último era o incrédulo “Il Capitano” Javier Zanetti, atleta que na partida contra o Bayern completou seu jogo de número 700 com a camisa nerazzurra.
Momento de glória para "Il Capitano" - Inter.it

Após 15 anos finalmente tinha chegado o dia dele levantar a taça mais desejada da Europa. Quando Platini foi entregar a taça a Zanetti, o argentino balançou a cabeça como se não acreditasse no que ocorria. Mais um momento emocionante da premiação.

Mourinho segurava a bola da final como se fosse a sua taça. O português que já sabia que esse seria seu último jogo no comando da Inter se emocionou muito. Já na partida contra o Siena, que decidiu o título da Serie A, “The Special One” mostrou seu lado emotivo. Nos vestiários, Mou abraçou cada jogador, eles retribuiram cantando a música em homenagem ao treinador.

O treinador especial diz que sai da Inter em busca de desafio, e também pelo fato de nunca ter se adaptado ao extra-campo italiano. José Mourinho que com a conquista pela Inter tornou-se o quarto técnico a ganhar a UCL por dois times diferentes, e na coletiva de despedida disse desejar ser o primeiro a ganhar por três.

A Inter só tem a agradecer ao treinador português, que fez a equipe retornar às glórias internacionais.

Na volta a Milão os jogadores da Beneamata foram recebidos por aproximadamente 50 mil pessoas no Giuseppe Meazza. Um dos mais festejados foi Diego Milito, e com toda a razão. O atacante argentino foi o primeiro jogador na história a marcar gols em todas as decisões que deram a tríplice coroa a seu clube, e não satisfeito com isso, ele marcou todos os gols. Contra a Roma no Olimpico na final da Coppa Italia, no Siena no jogo que valeu a Serie A e a doppietta na final da UCL.

A Inter comandada por Moratti e Mourinho, com Júlio César; Maicon, Lúcio, Samuel, Zanetti; Thiago Motta, Cambiasso; Pandev, Sneijder, Eto’o; Diego Milito em campo e contando com os importantes reservas Toldo; Santon, Materazzi, Cordoba, Chivu; Muntari, Mariga, Stankovic; Balotelli já está na história. A grande dúvida é se o time conseguirá se manter no topo.


Abraço a todos

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