Por razões diferentes, Maicon e Neymar foram os protagonistas do Tour norte-americano da seleção brasileira (Robert Mayer/USA TODAY Sports)
Desde o início da era Mano Menezes, acompanhar a seleção brasileira é uma tradição para mim. Com isso, tenho um arquivo extenso de estatísticas e observações, que renderam
vários textos para o Simplificando Futebol. Nesta sexta-feira, se iniciou a segunda era Dunga e, por isso, nesta semana, mesmo um pouco decepcionado, volto a falar dos
Samba Boys. Em julho imaginava que, depois do 7 a 1, poderia ver a seleção
em um contexto muito diferente, com mudanças na CBF, na estrutura do futebol brasileiro e na forma de pensar futebol ou, pelo menos, sinalizações de que as coisas estariam mudando. Porém, Dunga e Gilmar Rinaldi, com certeza, não representam o que esperava. Mas vamos lá.
A reestreia de Dunga teve oito jogadores, que estiveram na Copa de 2014, entre os titulares. Por isso, em campo, não houve uma grande mudança em relação ao time que foi goleado pela Alemanha. O novo técnico escalou a equipe de forma muito semelhante àquela que adotava na Copa de 2010, um 4-2-3-1 torto, em que o ponta-direita, Willian, jogava mais recuado em relação aos outros meias. Uma diferença clara foi o centroavante Tardelli, que não jogou preso dentro da área e se movimentou muito.
Apesar das mudanças, os canarinhos não mostraram nada muito diferente. O problema crônico da Copa do Mundo foi a saída de bola, que, contra a Colômbia, também foi inefetiva. Nem Luiz Gustavo, nem Ramires, se mostraram capazes de dar esta qualidade no primeiro passe. Os dois volantes brasileiros não têm as mesmas características que grandes nomes da posição, como Pirlo, Xabi Alonso e Schweinsteiger. Luiz Gustavo tem capacidade de chegar ao ataque com imposição física e chuta bem de fora da área, porém peca na parte de criação, no primeiro passe. Ramires é um jogador de movimentação e velocidade, ou seja, também não é um grande passador.
Além disso, os três meias titulares não têm características claras de armação, Willian, Oscar e Neymar são mais meias-atacantes/pontas. O camisa onze da seleção é o mais próximo de ser um amador clássico no time de Dunga, mas não é um meia de criação e, sim, um jogador de boa chegada na área. Philippe Coutinho, que tem realizado este papel no Liverpool, veio do banco, mas jogou pouco e, por isso, não conseguiu ter tanta influência no jogo verde e amarelo.
Além da repetição dos problemas antigos, há de se destacar a violência das duas equipes. A quantidade de faltas não foi tão grande, mas a agressividade delas mereceu destaque. O gol decisivo veio em bola parada, que foi assinalada por toque de mão bastante duvidoso. Neymar cobrou com maestria e marcou. Novamente, o camisa dez foi decisivo para uma vitória verde e amarela e, mesmo sendo início de trabalho, preocupa ver o Brasil tão dependente da sua principal estrela.
Apesar do desempenho mediano na estreia, os jogadores brasileiros tiveram uma folga entre os amistosos. Após o período, o coordenador da CBF, Gilmar Rinaldi, foi a público e comunicou o corte de Maicon, mas não explicou o motivo, levantando as mais variadas hipóteses sobre ocorrido. Ao final, jornalistas do Globoesporte.com, que acompanham a seleção in loco, informaram que o motivo do corte foi um atraso de onze horas na reapresentação. Para o lugar dele, Fabinho, que estava com a seleção sub-21 em Doha, foi chamado e, desta forma, os Samba Boys completaram a passagem pelos Estados Unidos com dois jogadores com idade olímpica, Marquinhos e o lateral-direito.
Com esta mudança, o Brasil enfrentou o segundo rival sul-americano com apenas duas alterações: na vaga do cortado Maicon, entrou Fabinho; e David Luiz, que ficou de fora por conta de uma lesão, foi substituído por Marquinhos. Dunga não abriu mão das ideias apresentadas na reestreia à frente da seleção, o 4-2-3-1 torto com falso nove seguiu. A movimentação dos quatro homens mais ofensivos com o apoio de Ramires se repetiu e, mais uma vez, foi o ponto alto da atuação verde e amarela.
As trocas de posição constantes entre os meio-campistas e o atacante confundiam os adversários e davam uma dinâmica muito interessante ao setor ofensivo brasileiro. Porém, parece que ainda falta mais treino para que os movimentos sejam mais integrados e que produzam chances mais claras de gols. Pois, mesmo se mexendo bem, a seleção chutou pouco e não assustou tanto o bom goleiro Domínguez. A defesa, quando exigida, se portou bem e Miranda mostrou o mesmo nível altíssimo que apresenta desde a última temporada no Atlético de Madrid.
Assim como no jogo frente aos colombianos, o gol brasileiro veio em lance de bola parada, porém, desta vez, não foi apenas a qualidade de Neymar que brilhou. Oscar bateu curto para o dez verde e amarelo, que, de primeira, jogou a bola na área, onde Willian apareceu libre para marcar o 1 a 0. Surpreende a ótima jogada, afinal, atualmente as seleções treinam muito pouco e o trabalho de Dunga foi recém-iniciado. Apresentar uma jogada ensaiada é um ponto bastante positivo, a torcida é para que isso continue nas próximas partidas, com novas jogadas trabalhadas, que podem ser um diferencial interessante desta nova seleção brasileira.
No segundo tempo, com Ricardo Goulart, Everton Ribeiro e Philippe Coutinho nos lugares de Willian, Oscar e Tardelli, a movimentação foi ainda mais interessante. Neymar assumiu o centro do ataque e foi muito acionado nos contra-ataques. Mas, apesar de mais e melhores oportunidades terem sido criadas, o segundo gol não saiu. O capitão e principal jogador brasileiro perdeu um gol incrível, sob às traves. O Equador também atacou mais e esteve muito perto do empate, Filipe Luís salvou uma bola em cima da linha.
Portanto, a volta de Dunga trouxe duas vitórias por placar mínimo e futebol, no máximo, nota sete. Alguns problemas se repetiram e, o maior deles, a dificuldade na saída de bola pelo centro do campo, não mudou nada. Mas há de se destacar algumas atuações individuais. A linha defensiva funcionou bem e, nos dois amistosos, Filipe Luís mostrou que está à frente de Marcelo na disputa pela vaga, mas deve se concentrar em ganhar a vaga no clube, onde iniciou como reserva. Outro que brilhou pelo Atlético 2013-14, Miranda, também largou bem na nova fase dos canarinhos. Não para deixar de falar de Neymar, pois segue em nível altíssimo e largou a era Dunga com um gol e uma assistência – na seleção principal já são 36 gols e 24 assistências.
No lado negativo, existe um jogador que merece ser falado de forma especial. O atacante Diego Tardelli não agradou tanto. O jogador do Atlético Mineiro cumpriu em partes o que se espera de um falso nove, pois se mexeu bastante, abriu espaços e, até, ajudou na recomposição, deixando Neymar muitas vezes mais solto à frente. Mas ficou devendo na participação com a bola e na finalização nas poucas oportunidades que teve. Tardelli pode até melhorar nas partidas que virão, mas imagino que outro nome será testado – poderia ser o Roberto Firmino, do Hoffeheim – nos próximos amistosos. Nos dias 11 e 14 de outubro, os canarinhos enfrentam a Argentina e Japão, na Ásia, quando espero ver melhorias no jogo brasileiro.