Fora de campo, as manifestações chamaram a atenção do Brasil
e do mundo durante a Copa das Confederações. Dentro das quatro linhas, a
competição mostrou um futebol de nível, craques como protagonistas, histórias
curiosas e, principalmente, a esperança verde e amarela revigorada após o
recital na final frente à Espanha
Amadurecendo, com carrossel tático
A Itália não repetiu os 11 iniciais em nenhum jogo da Copa das Confederações 2013 (Ap Photo/Antonio Calanni)
Após
o título na Copa do Mundo de 2006, a Itália iniciou uma reformulação ainda com
Marcello Lippi. Os primeiros movimentos de renovação foram tímidos, mas depois
da eliminação, na primeira fase do Mundial da África do Sul, o sinal verde para
uma mudança mais drástica foi aceso. Para isso, a aposta foi no jovem técnico
Cesare Prandelli.
Na
Eurocopa 2012, os italianos já mostraram uma recuperação, utilizando da mistura
entre jogadores mais jovens (Balotelli, Chiellini e Marchisio) e mais
experientes (Pirlo, Buffon). Com esta receita veio o vice-campeonato Europeu.
Neste ano, no Brasil, a Squadra Azzurra apostou
em estratégia semelhante e trouxe vários vice-campeões da Euro 2012 para a Copa
das Confederações.
O
que chamou a atenção na disputa da competição no Brasil mais uma vez foi a
facilidade do grupo em se adaptar. O esquema tático inicial foi o 4-3-2-1, com
variação para o 4-3-1-2. Com esta forma de jogar, as duas estrelas do time, Balotelli
e Pirlo, tiveram liberdade para exercer todo o futebol que têm capacidade de
apresentar. O centroavante jogava livre na frente, sem tantas obrigações de
marcação. Enquanto o camisa 21 azzurro
era o jogador mais recuado para dar qualidade à saída de bola italiana e tinha
ao seu lado De Rossi e Montolivo, que davam a segurança à defesa da Squadra Azzurra.
Com
esta forma de jogar, a Itália venceu o México com alguma facilidade e teve
bastante dificuldade para bater o Japão por 4 a 3. No jogo contra os asiáticos,
o 4-3-2-1 foi mantido, mas as peças foram trocadas. A Itália mostrava
capacidade de se adaptar aos adversários e um elenco forte, com jogadores
capazes de acompanhar as ideias de Cesare Prandelli. Frente ao Brasil, os azzurri mudaram taticamente mais uma vez
e optaram pelo 4-2-3-1. Como todos sabem, os “canarinhos” fizeram uma de suas
melhores atuações no torneio, porém a Itália fez jogo corajoso e teve chances
de sair com um resultado melhor do que a derrota por 4 a 2.
Na
fase final a história de sempre se repetiu e a Itália cresceu na reta decisiva
do torneio. Primeiro, a semifinal contra a Espanha. A Squadra Azzurra optou por um esquema com três zagueiros, o 3-4-2-1.
Com a dobradinha de Candreva e Maggio pela direita, Jordi Alba pouco conseguiu
jogar. Do outro lado, sem a mesma eficácia, jogaram Giaccherini e Marchisio. As
dobradinhas pelos extremos deram resultado e a Itália foi melhor que a roja durante todo o tempo normal da
partida, depois, sofreu com o domínio espanhol na prorrogação. Com Pirlo sem a
forma ideal e Balotelli machucado ficou o sentimento que faltou a maior
presença dos protagonistas italianos para que o time tivesse mais sorte na
semifinal perdida nos pênaltis.
Para
conquistar o terceiro lugar, a Itália voltou a utilizar o esquema 4-3-2-1 e,
com a grande participação nas bolas paradas de Diamanti, conseguiu a vitória nos
pênaltis (com três defesas de Buffon) frente ao Uruguai, após o 2 a 2 no tempo
normal. Na disputa contra a Celeste, os azzurri
foram melhores o jogo todo, mas sofreram com a boa atuação de Cavani, que
marcou os gols uruguaios.
O
terceiro posto no torneio não foi o mais importante para a Itália. Com a grande
variação tática apresentada e a boa adaptação dos jogadores às mudanças
impostas por Cesare Prandelli. Além disso, Candreva repetiu o bom desempenho
que teve com a Lazio na seleção e, agora, se torna mais uma opção bastante
interessante para o meio-campo azzurro
na Copa de 2014. A classificação italiana para o Mundial no Brasil está bem
adiantada e, no grupo B das Eliminatórias Europeias, a Itália está invicta.
A recuperação charrúa
Cavani comemora gol contra a Itália, o centroavante cresceu com a Celeste na reta final da Copa das Confederações 2013 (AFP/Daniel Garcia)
O lado derrotado também tem o que comemorar. O Uruguai
perdeu as disputadas de terceiro lugar nos Mundiais de 1954, 1970 e 2010 e, na
Copa das Confederações, de 1997 e de agora. Porém, a Celeste deixa o Brasil
fortalecida. A seleção vizinha veio recheada de dúvidas para a disputa. Com um
elenco bastante semelhante ao que disputou a Copa do Mundo de 2010, com muito
destaque, a idade chegou e muito daqueles jogadores já não vivem o mesmo
momento de três anos atrás. Por conta disso, os charrúas não vinham bem nas Eliminatórias sul-americanas e só
conseguiram alcançar o quinto posto na tabela agora. Hoje, disputariam a
repescagem contra um país asiático.
Na Copa das Confederações, os uruguaios começaram devagar e viveram uma primeira fase de altos e baixos. Conseguiram a classificação muito em função dos trio de atacantes muito acima da média. Na fase final cresceram e, com eles, a defesa mostrou mais consistência. Contra o Brasil, Cavani se tornou protagonista e a Celeste fez jogo muito equilibrado. Com “El Matador” crescendo nos jogos decisivos (três gols, em duas partidas da fase final), os Charrúas também fizeram bom jogo e acabaram derrotados apenas nos pênaltis.
O crescimento faz o Uruguai acreditar na melhoria de desempenho na Eliminatória e, em uma anteriormente improvável, classificação direta ao Mundial de 2014. O trio formado por Forlán, Cavani e Suárez obriga os charrúas a sonharem com isso. Após a conquista do quarto lugar, o centroavante do Napoli deu uma declaração nesse tom: “Acho que podemos sair do Brasil de cabeça em pé. Tivemos azar contra o Brasil e contra a Itália, mas é claro que eles tiveram méritos também, digo que eles tiveram algo extra, que nós não soubemos ter. Fomos melhores em parte do jogo, mas ele acabou indo para os pênaltis. Essa experiência vai nos ajudar a buscar uma vaga nas Eliminatórias”.
Os protagonistas das grandes
histórias
Festa dos taitianos ao final da passagem pelo Brasil, ficou o carisma da seleção mais fraca do torneio (Ag. Reuters)
A
grande surpresa da competição foi a participação do Taiti. A seleção da Oceania
veio ao Brasil com apenas um jogador profissional (Marama Vahirua), perdeu as
três partidas que disputou, sofreu 24 gols e marcou apenas uma vez. O autor da
proeza foi Jonathan Tehau, na derrota por 6 a 1 para a Nigéria.
Mas
o que ficou da seleção da Oceania foi mesmo o carisma e o carinho que tiveram
pela torcida brasileira. Ao final da participação na Copa das Confederações,
ainda em campo após a derrota por 8 a 0 frente ao Uruguai, todos os taitianos
portavam bandeiras brasileiras e apresentaram uma faixa com o agradecimento “Obrigado,
Brasil”. Ao final do mesmo jogo, na coletiva de despedida, o técnico Edy Etaeta
fez um gesto impensável no futebol atual, onde, cada vez mais, existem
barreiras entre os protagonistas dos espetáculos e os jornalistas: cumprimentou
cada um dos profissionais da mídia presentes na sala de imprensa.
Ao
longo da estadia no Brasil os jogadores do Taiti entregaram a todos os
tradicionais colares do país e esbanjaram simpatia. Mas, além disso, a grande
história ocorreu no encontro com a melhor seleção do mundo, a Espanha. Após a
derrota por 10 a 0, um dos membros da delegação, que seria o 24° jogador da
seleção taitiana, Efraín Arañeda tinha um único objetivo: encontrar um
antigo conhecido, Fernando Torres.
O chileno naturalizado taitiano foi o guia
do centroavante da Espanha durante a lua de mel do camisa nove em 2007. Após a
partida o encontro ocorreu e mais da história, você pode ler a análise do caso na Trivela realizada pelo amigo Felipe Portes.
Por isso, para a infelicidade de muitos, os grandes personagens da Copa
das Confederações não conseguiram se classificar para o Mundial no ano que vem.
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